Enquanto o Ricardo começava a bater as panelas dele - com muita empolgação - eu tratei de acabar com ele e com Lars através do celular:
- E o Rick, esse traidor de uma figa, disse que além de tudo o primo dele é cheio de "não me toques"... o cara nem come carne!
- Vai ver ele é um fanático que idolatra vacas, e é seguidor de Gandhi. - Refletiu Lola, sem emoção.
- Gandhi?
- É, Jussy... Mahatma Gandhi, ele foi um líder espiritual Indiano, sabe?
- Huuum, acho... acho que sei, uma figura, realmente. - Menti, não fazia ideia de quem era o cara.
- Ou ele é bicha!
- Bom, Rick não falou nada. - Tentei desconversar, por mais que não estivesse indo com a cara do Lars, não poderia afirmar ou negar a sua opção sexual.
- Aposto que ele é feio e nem tem namorada. - Lola palpitou.
- Como já disse, Rick não fez nenhum comentário relacionado a vida pessoal do Lars. Mas, como estávamos falando de mim, sobre o que eu penso em relação a tudo isso, o que posso afirmar é que... não tenho sorte! Veja, era pra eu estar indo pro Salão da Prosperidade, mas estou aqui, no quintal! Olhando as luzes da civilização piscando para mim como um chamado, e eu vou ter que ficar fazendo sala pra um comedor de grama!
- Terrível! - Lola concordou no mesmo instante.
- Com tantos dias pra esse chato chegar, por que tinha que ser justo hoje?
- Realmente... "nonsense".
Após um curto e estranho período de silêncio, resolvi mudar de assunto:
- Escuta, o que você tá fazendo que está praticamente monossilábica, hein?!
- Na verdade, Jussy, não quis falar nada, mas... estou recebendo visita, entende?
- Ah é?! E como ele chama, de onde ele é?
- Atende por Ryan, é aqui de Bridgeport mesmo, e... - Lola deu uma risadinha sacana.
- Lola... o que é? - Eu me empolguei no mesmo segundo, adorava quando ela dava aquele tipo de risada, significava que teria uma história picante para ouvir.
- Ele é um espetáculo! Tem uma bundinha! Um peitoral lindo, bem trabalhado - Suspiro - Os braços dele são tão fortes, e ele me pega de um jeito! - Outro suspiro, dessa vez bem longo.
- Pelo visto, ele é todo gostoso! - Comentei à-toa.
- Gostoso? - Minha amiga pareceu perder o ar - Chamá-lo de gostoso chega a ser uma ofensa, gatinha! Ele é um tesão!
- Então, acho melhor desligar. Vou deixar você se divertir... uma de nós tem que dormir feliz hoje, né?
- Dormir? Só se for você! Pois não prego o olho enquanto o "Senhor felicidade" estiver ocupando a minha cama.
Me desculpei com Lola, e desliguei o telefone - a contragosto - e assim que guardei o aparelho, notei que um táxi estacionou na porta da casa -
- É aqui sim, tenho certeza - Disse o vulto, que só poderia ser o Lars.
- blábláblá - não consegui ouvir o que o taxista falou.
- Imagina! O senhor não me incomodou! - Respondeu então o vulto, de forma muito educada.
- blábláblá! - Foi a vez do taxista falar.
- Muito obrigado, por tudo. - Encerrou o vulto.
Tive um tempo para refletir, foi até bom que ele chegou logo, pelo menos voltaria para casa o quanto antes.
Visando o final da totura, aguardei com toda a paciência do mundo que ele tocasse a campainha, para que alguma alma caridosa - que não seria a minha - fosse recebe-lo... mas, simplesmente não aconteceu, o que me deixou um pouco ansiosa.
Que merda! - falei com meus botões - o que aquele cara tava fazendo na varanda que não podia acabar de uma vez com a minha agonia?!
Foi quando de repente, ouvi um som estranho vindo por de trás da cerca viva.
- Hei, hei... psiuuu!
Forcei a vista e quase cai na gargalhada, ao ver que o vulto tinha tomado alguma forma, mas respondi fingindo que não tinha notado a sua chegada:
- Quem tá ai?
- Oi! Sou eu... o Persy.
- Persy?
As coisas começaram a ficar um pouco estranhas, afinal esperávamos pelo Lars, sendo assim fiz uma voz bem séria, e o questionei:
- O que você quer?
- O Rick mora aqui, não mora?
- Por que você quer saber? - Perguntei então, desconfiada.
- Eu sou o primo dele!
- É mesmo?! Seu mentiroso! - Exclamei no mesmo instante.
Poderia ser um ex funcionário tentando matar o Rick? Ou ainda um espião da empresa concorrente, louco para nos torturar até que Rick contasse quais seriam as novidades para o começo do semestre? Poderia até mesmo ser um chefe de uma grande quadrilha especializada, que deveria saber de todos os nossos passos, pois implantou escutas em todos os telefones e móveis da casa.
Estamos em Bridgeport, vocês bem sabem, cidades grandes costumam ser muito perigosas.
- Sou sim! - Afirmou - Ele está me esperando!
- Ele está esperando uma visita, mas o primo dele chama Lars.
- Sou eu! - Ele insistiu - Lars Persy!
- Afinal, você chama Lars, ou Persy? - Questionei-o mais uma vez.
Quando você faz perguntas demais, os criminosos costumam se enrolar, e se entregam logo de cara. Aprendi isso assistindo seriados de detetives:
- Os dois, como disse: Lars Persy.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Sei... e me diz então, onde você passava as férias com o Rick? Você só tem uma chance!
Por sorte Rick tinha me revelado um segredo de família, como se pudesse pressentir o real perigo que estávamos vivendo naquele exato momento.
Pobre Ricardo, estava completamente alienado entre sua massa e as panelas, enquanto eu estava entre a vida e a morte bem embaixo do seu nariz.
- Isso é sério? - Ele pareceu sorrir por debaixo do fôlego, e eu achei o ato muito parecido com uma afronta a minha sanidade - O que você é? Uma esfinge? Decifra-me ou devoro-te?
Segredo dos seriados de detetives número dois:
Os criminosos sempre tentam te enrolar com umas frases meio sem sentido, para que você perca um tempo considerável refletindo, enquanto eles acabam com tudo o que existe em volta.
Pensando exatamente nisso, fui categórica:
- Você perdeu a sua chance! - Me preparei para sair correndo.
- No rancho do vovô Walter, em Appaloosa Plains! Eu, Rick e meu irmão Freyr!