quarta-feira, 18 de abril de 2012

XX - Causa Mortis: Arrependimento


E eu fui correndo.
Contei a minha amiga toda a trajetória surreal da minha minúscula história com o Persy; e por um bom tempo Lola acompanhou tudo calada. Porém, na parte em que eu contei que o Persy era virgem, bom... me arrependi quase que instantaneamente, e vocês vão saber o porque:
- E, Lola, o pior mesmo, é que... além de tudo, ele é virgem.
 Silêncio sepulcral, por vários instantes, busquei em seu rosto alguma má reação, algo como um julgamento: “Ah, fala sério?! Ele é um matuto!” Mas, para o meu espanto, e logo para a o meu arrependimento maior, Lola demonstrou um grande interesse no assunto.


E de uma frase para a outra ela chegou num nível de intimidade que eu quase não pude suportar:
- É mesmo?
- Hããã, sim...
- Então, o Persy é virgem de tudo?
Tive que trincar os dentes para não corrigi-la: “hei! Persy não, pra você, e todas as outras mulheres do mundo, Lars” mas fiquei na minha, contra a minha vontade, é claro, e respondi meio a contragosto:
- Ele já namorou algumas garotas... mas não se aprofundou nos relacionamentos.


- E me diz, Jussy, ele é bonitão mesmo como você disse, ou... você só quis me deixar com vontade de conhecê-lo?
Mas que audácia a da Lola!!!
Será que ela não captou em nenhuma das minhas frases nas últimas duas horas que eu estava muito, muito interessada na figura do Persy? Quero dizer, ela não deveria estar falando para mim que está com vontade de conhecê-lo por ele ser bonito, não é de bom grado você dizer para a sua amiga que está afim de conhecer o cara que ela está afim, não é?


- Ele é bonito sim, Lola, quem dera não fosse... quem sabe eu estaria menos tentada a ultrapassar a barreira da amizade me arriscando a perder tudo. – Respondi a ela, com a intenção de lhe clarear as idéias, tentando cuidar do meu recém demarcado território.
 - Hum, mas e o Rick? – Ela perguntou, sobrancelhas arqueadas, aquilo era um desafio... nós mulheres sabemos quando estamos diante de um desafio.
- Bom... ele não tem nada a ver com isso, o Rick está em um lugar e o Persy em outro, eles não se misturaram dentro de mim, sei muito bem o lugar dos dois.


Então ela resolveu ser mais ousada, e é lógico que seria:
 - Justine, você não pode manter o Persy – É, Lars! Você nem o conhece para chamá-lo de Persy, pra você é Lars! – em uma redoma de vidro, você namora o Rick, e... o Persy está sozinho, solteiro...
- Aonde você está querendo chegar com isso? - Cortei todo o discurso que ela estava com muita vontade de fazer, de uma maneira quase ameaçadora.


-  Justine! Você namora o Rick, não tem a menor intenção de abrir mão do seu relacionamento, ainda que esteja com vontade de ficar com o Persy, mas tem ciência de que é impossível que role algo entre vocês, então é muito, muito claro que você deve deixar o Persy de lado, e focar no seu relacionamento com o Rick que é a sua prioridade, estou errada?


Não, ela não estava. Mas o que estava me deixando irritada era a forma como ela estava tentando conduzir as coisas, meio que tentando desesperadamente tirar o meu foco do Persy, e Deus, eu odiava conhecê-la tão bem! Era evidente que ela estava disposta a saber se o Persy era do tipo que valia a pena perder tempo e apostar alto, o pior é que eu sabia que se ela o conhecesse, iria apostar tudo o que tinha no relacionamento dos dois, e o fato dele ser virgem, aquilo realmente fez dele, de repente, um tesouro precioso, quase exposto no meio da praça de Bridgeport, prestes a ser descoberto.


Pensando bem, e chegando rapidamente ao fundo de tudo isso, o Persy era exatamente o cara que Lola esperava aparecer em sua vida, na verdade ele é o príncipe de qualquer mulher, e eu nem podia descartar a hipótese de que um dia ele poderia aparecer montado num belo cavalo puro-sangue para levá-la com ele. Aquilo me doeu, me fez sentir náuseas, eu não queria que Lola fosse o amor do Persy, eu amava a minha amiga, mas... não a ponto de entregar-lhe o Persy assim, entretanto o que eu poderia fazer? Ela estava coberta de razão ao dizer que eu não deveria tentar mantê-lo em uma redoma de vidro, mas era essa exatamente a vontade que eu tinha.