domingo, 22 de abril de 2012

XXI - Quebrando as regras


Passava do décimo segundo dia que eu não tinha contato com o Persy, quando me lembrei do pedido do Rick; Que eu tinha que aparecer vez ou outra, para que o primo não ficasse em completa solidão.


Oras! O Persy é crescidinho o suficiente para pelo menos pegar o telefone e fazer uma ligação, caso viesse a se sentir solitário, eu imagino, e se ele não estava me procurando, era porque ele ainda não tinha sentido necessidade de conversar com alguém, e continuava me evitando.


Mas, eu estava começando a sentir a falta dele, do seu jeitinho infantil e angelical, dos seus cílios enoooormes que destacavam tão bem a cor dos olhos verdes, da pele branquinha igual a de bebê, do cabelo preto caidinho na testa, e até mesmo dos pêlinhos ralos do seu braço.


E submersa nesses pensamentos, cheguei a conclusão de que eu era um monstro, desses bem grandes, estilo um ameaçador Kraken, apesar que eu estava mais para Erínia no momento, uma mistura bem maquiavélica de Tisífone com Megaira.
O que eu estava fazendo exatamente, o castigando por ter sido correto?


Me senti pior ainda ao imaginá-lo sozinho sem ninguém para conversar por tanto tempo, sentadinho no sofá de vime, esperando que alguma alma caridosa viesse ao seu encontro, disposta a fazer-lhe um afago.


Resolvi então quebrar toda essa bobagem de: “Vamos ver quem vai ganhar o prêmio eu sou o otário, pois cedi primeiro” e liguei.
Como era de se esperar ele demorou uma eternidade para atender o telefone, num ponto que eu quase desliguei, pois estava certa de que ele não iria me atender, então ouvi o clique do aparelho sendo puxado da base e meu coração, de repente, estava na boca.


Vale lembrar que todas as palavras me fugiram, e eu não fazia a menor idéia do que dizer a ele, por sorte, não era o mesmo caso do Persy:
- Alô? – Ouvir a sua voz fez com que minha pele se arrepiasse completamente, ah... como senti falta da sua voz, e nem tinha me dado conta disso.
- Oi, Persy! – Dei toda uma ênfase no cumprimento, com um jeito bem amável.
- Justine? – Oras, e quem mais o chamaria de Persy, sendo que ele mesmo havia confidenciado que eu era uma das poucas pessoas que o chamava assim?


- Sim, Justine... – Houve um silêncio enorme, e não pude imaginar o que aquele silêncio estava representando, felizmente ele foi quebrado:
- Oi! Como você está?! Não apareceu mais.
- Estou bem, e você? – Tentei evitar a todo custo o restante da frase.


- Hum, na medida do possível, estou bem... mas, receio ter feito algo que por algum motivo te chateou, fiz?
 Adorava toda a sinceridade dele, e a inocência bom, era o seu maior atrativo com certeza, não que ele não fosse bonito o suficiente para que as pessoas se apaixonassem por ele rapidamente, mas no meu ponto de vista, a inocência ainda era a estrela do seu currículo.
 Entretanto, naquele momento, eu odiei que ele fosse tão inocente e sincero, o telefone não era exatamente o lugar apropriado para conversarmos sobre esse tipo de coisa, e... enfim...


- Oh! Persy... não, não... você não fez nada! Entenda, eu estive muito ocupada por esses dias... – Eu estava me odiando agora por estar começando uma mentira que eu não sabia onde iria acabar, mas o Persy, bom, ele me cortou bonito:
- Não precisa me encher de desculpas, Justine... não sou idiota, não deveria ter tocado em alguns assuntos, mas acabei atropelando tudo, eu gostaria de poder me explicar.


- Persy, Persy! Para com isso, me escuta...
- Só acho que deveríamos esclarecer as coisas... acho que é a maneira mais saudável e adulta para chegarmos em algum lugar, ou pelo menos tentar.
 Aquilo me quebrou as pernas, eu posso jurar que me senti diminuindo aos poucos, conforme cada palavra dita por ele atravessava o aparelho como uma pedrada na minha testa.


Rapidamente eu decidi que seriamos adultos - como ele mesmo tinha sugerido - iríamos encarar os fatos, e seria naquele momento:
- O que você está fazendo agora?
- Nada de especial. - Rebateu ele, imediatamente.
- Posso passar ai?
- É claro que sim.
- Certo, em meia hora estarei ai.