domingo, 4 de março de 2012

VIII - Testemunha ocular


Nas primeiras semanas após a chegada do Persy, segui muito mais como espectadora do mundo em minha volta do que como protagonista.
Persy apesar de tímido, era muito bom de papo, e dono de uma carga intelectual invejável; Viajava pra cacete, falava muitos idiomas, conhecia muita coisa e tinha uma infinidade de assuntos.


Se Rick quisesse falar sobre negócios, Persy conversava sobre negócios, se Rick quisesse falar sobre tecnologia, Persy também levava o papo numa boa, se Rick pedisse uma dica para um final de semana fora da cidade, é claro que Persy tinha um leque de opções prontinho em suas mãos, mas... se de repente, o Rick quisesse falar sobre o meio natural, ah, o Persy falava muito sobre isso também!


Então, vocês podem estar dizendo agora: “Nossa, então ele realmente é um chato!"
Digo isso porque pensei exatamente o mesmo quando o Rick me falou que o Persy era um cara de quem eu não ia gostar nadinha, pois não tínhamos nada em comum. Entretanto esqueçam tudo o que ele disse sobre eu achar o Persy um chato, porque ele definitivamente poderia ser muitas coisas, menos uma pessoa enfadonha.


E pra falar a verdade, até me divertia com ele; Pois foi ouvindo conversas entre os dois que conheci palavras como: Hieróglifo, Ruínas de Karnak, esfinge, escrita cuneiforme, Templo da Rainha Hatsheput, Necrópole de Gizé, Quéops, Miquerinos e Quéfren, abóbodas, gárgulas, e mais um monte de outras palavras estranhas que me faziam ter vontade de ter um site de busca embutido no meu cérebro, sabem como é?

E posso até dividir com vocês, não eram raras as vezes que eu saia de mansinho e acessava o Google do meu celular para fazer uma busca rápida, a fim de não dar mancada.



No começo, apesar de não achá-lo nada chato, tive muito receio de me aproximar de Persy, tinha medo de que ele fosse me achar uma anta - Assim, como vez ou outra o Rick costuma achar - por eu não me ligar muito nas coisas boas que os artigos, livros e revistas sérias tem a oferecer, então preferi manter uma distância segura entre nós.


E eu também me senti retraída em contar a ele sobre o que eu fazia para sobreviver.
Vejam, não tenho o menor problema com a minha profissão, adoro ser mixóloga de verdade, fiz muitos e muitos cursos, batalho todos os dias pelo meu salário, meu trabalho não me envergonha de maneira alguma, só que para alguém como o Persy, que faz uma porção de coisas que eu não faço idéia, meu ganha pão não soaria um tanto... irrisório?