- Então, onde ele está, hein? Sabe me informar em que hotel ele está hospedado?
Youssef sorriu novamente, agora debochando de mim, pude sentir, e então falou na língua enrolada alguma coisa como:
"Dsauhafafa lapububele Inglesson hahaha ijdaijdsaekekepuuuuf"
E todos que estavam por perto riram também, e é claro que todos, assim como Youssef, estavam debochando de mim.
Aquilo era um péssimo começo, e nada bom para o turismo local, eu mesma seria uma pessoa que iria meter o pau nessa recepção nada calorosa com os turistas:
- O.k, não entendi a piadinha interna, mas... é caso de vida ou morte, sabe? Eu preciso encontrar ele com urgência, Youssef!
- Bom, Justine... vejo que nunca esteve em Al Simhara. – Mas qual era a dúvida? Eu não estar vestindo uma camiseta de souvenir, ou não falar a língua deles?
- Não, realmente nunca estive, poderia explicar pra você com detalhes tudo sobre mim, mas... agora não tenho tempo!
- Não temos hotéis aqui, e todos os turistas ficam hospedados em suas barracas na base de turismo.
- Ahh, isso faz algum sentido... - Era um local horrível certamente, mas também era o local mais movimentado dali. – O Persy, está lá?
- Persy?
- O senhor Inglesson! Pelo amor de Deus!
- Ah sim... bom, o Senhor Inglesson saiu com a comitiva há cerca de duas horas em direção a pirâmide de Gizé.
- E quando sai a próxima comitiva? – Indaguei já puxando meu porta moedinhas, para contar as merrecas.
- Daqui cinco dias.
- Como?
- Cinco dias, senhora Justine.
Não, não, aquilo não poderia estar acontecendo, não comigo! Não poderia ficar ali, durante cinco dias plantada esperando que o Persy aparecesse miraculosamente. De repente, eu me lembrei das histórias que ele contava, e do tempo considerável que ele passava enfiado nas tumbas, aquilo estava começando a se parecer muito com um pesadelo, então com a voz chorosa eu reclamei:
- Mas, que merda... vim de tão longe, estou sem dormir há um tempão, não sei nada da cultura local, e... que merda! Naquela altura eu já estava fungando.
- Deixa eu ver se posso fazer algo pela senhora, já comprou a comida seca?
- Não, aonde vende?
- Aquela mulher – ele apontou pra mulher do bolinho de barro – Ela vende comida seca.
- Ela tava tentando me vender uns bolinhos de barro, mas... eu não tenho interesse em andar por ai com bolinho de barro.
- Não são bolinhos de barro! É a comida seca, senhora Justine!
Aquilo viscoso, é de comer? Urghh eu nunca, nunca conseguiria colocar aquilo na boca, preferia passar fome, mas, de qualquer maneira, acabei comprando por medo do Youssef não me ajudar, porque afinal eles deveriam viver de turismo imaginei.
Ele ainda quis que eu comprasse um saco de dormir ou uma barraca, mas eu expliquei a ele que não poderia seguir pelo deserto com todo esse peso em mãos, e ele acabou concordando, ainda que tenha me alertado que seria impossível eu conseguir dormir sem um dos dois, mas pensei comigo, se eu tivesse sorte e Lola ainda não tivesse convencido o Persy a não ser mais gay, quem sabe ele me daria uma pontinha do seu saco de dormir? Iria então depositar minhas esperanças nesse pensamento.
Por fim, depois de toda a ajuda do Youssef, finalmente segui em direção a pirâmide, e o ouvi dizer ao longe:
- Não tem como errar, Senhora Justine! Ele seguiu para a pirâmide maior, a maior não se esqueça!