quarta-feira, 19 de setembro de 2012

XXXVIII - Al Simhara II


Enfim, segui para a primeira casa? Loja? Coisa? Que encontrei, e fui feliz e saltitante perguntar ao balconista se ele conhecia o Persy e se sabia para onde ele tinha ido.
Devemos nos lembrar que eu estava dois dias atrás de Persy, era provável que ele já estivesse enfiado em alguma tumba; De qualquer maneira, após a informação seria muito mais fácil encontrá-lo, ai era só uma questão de me localizar, concordam?
Pois bem, o meu erro foi ter me esquecido do conselho do Rick ao dizer que a comunicação seria bem complicada, é claro que eu não entendia merda nenhuma do que aquele homem estava falando, e para o meu maior azar, ele parecia me entender muito menos.


Resolvi deixar o estabelecimento em busca de ajuda em outro lugar.
 Fui abordada por uma moça simpática que estava muito a fim de vender suas bugigangas, acho que por eu ser gringa, ela realmente estava disposta a me fazer comprar:
- Não minha senhora, entenda... – Nessa parte além de falar, eu estava fazendo gestos frenéticos - eu não quero esse negocinho, nem sei para que serve! – Disse a ela que me empurrava um montinho de barro.


E depois de quase quarenta minutos tentando me comunicar com alguém, e quase empunhando um pedaço de papel e uma caneta para começar a desenhar, houve um burburinho e finalmente ouvi alguém falar a minha língua:
- Forasteira – Disse o homem, com um sotaque engraçado.
- Oh! Graças a Deus, alguém que fala a minha língua!
- Olá, me chamo Youssef.
- Olá, me chamo Justine. – Não nos cumprimentamos com dois beijinhos.
- Deseja alguma informação? - Eu fui direto ao assunto.
 - Sim, eu... estou procurando um homem, e gostaria de saber se o senhor, de repente, não o conhece, sabe? Ele é alto, muito bonito, de porte atlético, apesar de ser muito frágil e inocente devo deixar claro, de olhos esverdeados, cabelos negros de pele clara, e...
- O senhor Inglesson?
- Não, não... senhor não, ele é um rapaz...
- O Senhor Inglesson... ele bate exatamente com o sujeito que a senhora acaba de descrever .
- Hum... Senhor Inglesson, entendi. Só por curiosidade, Lars é o o primeiro nome? Ou último não sei qual é a de vocês aqui.
- Hãm... Lars é sim... Lars.
- Oh! Que maravilha! Estamos então falando realmente da mesma pessoa e começando a nos entender.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

XXXVII - Al Simhara


Claro que a viagem demorou décadas, e eu estive muito nervosa durante todo o tempo, não consegui dormir nenhum pouquinho, se bem que não dormir foi uma coisa muito boa, porque usei o tempo para tentar decorar o mapa local que o Rick havia descolado na internet, e digo pra vocês com toda a sinceridade, é um mapa bem complicado, mas levei em consideração que não deveria ser difícil localizar as pirâmides pelo menos, pois aparentemente, e por tudo o que eu havia estudado e visto de imagens delas durante a vida, podia dizer com certeza que elas eram enormes.
Vocês não devem estar interessados em saber o quanto foi desagradável passar tanto tempo dentro de um avião, eu imagino... e tão pouco em saber quantas vezes eu precisei usar a apartada cabine para aliviar minhas necessidades fisiológicas, também não devem estar com um pingo de vontade de saber o que foi servido nas refeições, e muito menos em saber...

O.k, vou pular isso.



Quando cheguei no Egito, o deserto não era ao lado do aeroporto, então ainda tive que fazer uma pequena viagem... coisa de quatro horas em um ônibus, mas felizmente eu consegui chegar sã e salva no deserto, e fiquei contente por isso.
Nos deixaram numa espécie de base turística, se bem que parecia muito mais com um acampamento grotesco, imaginei Lola ali, e pude me deliciar ao vislumbrar a sua face horrorizada com tudo aquilo.
E então, após ter dado uma olhada pelo local, voltei a pegar o mapa. Não poderia sair como uma louca atrás das pirâmides, vocês sabem... e se eu viesse a me perder? Apesar delas serem enormes eu corria sérios riscos de caminhar em direção contrária, então localizei no mapa o simpático mercado, e decidi que iria para lá, atrás de informações sobre o Persy.
Quando cheguei no local, fiquei fascinada, era tudo tão diferente! Eu conhecia Bridgeport muito bem e Twinbrook também, mas, nunca tinha sequer ultrapassado os limites dessas cidades, e pra mim Bridgeport era um lugar muito complicado de se localizar, por todos os arranha céus e por seu tamanho, mas digo que o deserto era bem mais difícil fazer isso. Pois não existem placas explicativas, por exemplo: Rua X, do número 200 ao 300, não existe mesmo, então soube o quanto Persy realmente deveria se divertir comigo, achando que ele pudesse se perder em um lugar como Bridgeport que tinha mapas espalhados por toda a cidade nas entradas do metrô.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

XXXVI - Admita se for capaz II


Meu queixo caiu ao saber que Lola, com toda a sua influência, fez questão de acompanhar o Persy em sua nova aventura; Porém, ao contrário do que Rick temia, eu não fiquei com raiva dele, fiquei mesmo com raiva de mim, por não ter tido confiança em Persy, por não ter confiado nos seus princípios fiéis, e por eu não ter um centavo na minha poupança, e nada que pudesse vender para ir atrás dele.
Lola então atravessou o oceano a nado, e se enfiou no meio do deserto por ele, e eu aqui bancando a traída, e agora eu me ferrei, e me ferrei de vez.
 Desabei no sofá sob o peso do meu próprio corpo, e lamentei comigo mesma:
- Que droga, e eu não tenho um tostão furado para que eu possa me redimir... como sou otária! Bom, sou um fracasso realmente.
Rick sentou-se ao meu lado, compartilhando por algum tempo da minha aflição:
- Se eu tivesse enxergado antes que meu emprego na verdade era um hobbie, teria algum para financiar a minha viagem, mas... e agora, Rick? O que vou fazer, se... o dinheiro que eu tenho para receber, vou ter que pagar o aluguel, a água a luz e o telefone, sem contar nas despesas com alimentação? Você sabe, quando pago as contas me torno uma miserável.
- Você está disposta a ir atrás dele, Jussy?
- É tão horrível ter que admitir isso pra você... – Ele me lançou um olhar e sorriso terno – Mas, acho que no momento estou disposta a vender todos os meus móveis, todas as minhas roupas, e encerrar o contrato com a imobiliária só para ir atrás do Persy.
 - Se você se sente assim, então vamos dar um jeito nisso agora mesmo.
- Como assim? Que parte do “eu não tenho um tostão furado e me torno uma miserável após pagar as minhas contas” você não entendeu?
- Ao contrário de você, eu tenho um emprego que me paga bem, e tenho uma poupança até que razoável, Justine... sua cabeça de vento! Vamos, vou te emprestar a grana... - Disse Rick, me puxando pela mão.
- Mas... e como vou te pagar? – Rick parou, apenas com a intenção de me encarar, e disse:
- Quando você tiver um emprego descente, você me paga – Eu iria agradecê-lo eternamente por ele estar sendo tão maravilhoso comigo, mas ele não permitiu e continuou a falar – Bom, e também, se não for pedir demais... mande Lola de volta, sã e salva, e... diga que estou esperando por ela. – Agora eu iria xingá-lo, mas pensando bem... poderíamos fazer essa troca de favores sem maiores complicações.
Então, Rick voltou a me puxar pela mão enquanto ia dizendo:
- Espero que o seu passaporte não tenha vencido, sabe? E que sua vacinação esteja em dia também.
 Eu nem sei explicar o porque, mas... miraculosamente estava tudo em dia.
Rick ainda me alertou sobre a comunicação no meio do deserto, que seria um pouco complicado por causa das línguas tão distintas, disse para eu dar uma pesquisada sobre linguagem manual, para que não fosse presa por desacato e nada parecido, e após me dar um bilhão de conselhos que eu não consegui absorver, ele disse:
- Você terá problemas só até encontrar o Lars, depois você vai poder relaxar e deixar tudo por conta dele, afinal ele é quase um cidadão local, e nem sei como ainda não recebeu a chave da cidade, mas acho que isso é questão de tempo, logo logo ele receberá, com certeza.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

XXXV - Admita se for capaz



- Não é de mim que você precisa, Justine - Eu abri a boca para protestar, mas não tive tempo
– Você precisa de mim apenas como amigo, e vamos lá... admita pelo amor de Deus, você está completamente apaixonada pelo Lars!

 Calúnia! Como o Ricardo poderia dizer algo dessa proporção... ele era meu namorado ainda, e tinha sido por anos!

- Você está louco! De onde tirou essa idéia maluca?!
- Você não quer exatamente que eu narre tudo, não é? – Eu continuava olhando pra ele com um espanto sem tamanho – Tá, tudo bem, vou te refrescar. Posso apostar que você está morta de ciúmes porque Lars e Lola estão saindo juntos.
- Não estou com ciúmes, só... hãm... chateada porque Lola me abandonou.
- O.k, então me diga, porque não apresentou Lola ao Lars sabendo que eles tinham afinidades?
- Hãm... porque não tive oportunidades.
- Mesmo tendo um celular, e conversando com Lola todos os dias?
- Lola não esteve por aqui o tempo todo também, ela viajou a Barnacle Bay, e passou um tempão por lá. 

Muito bem Justine, essa foi de mestre!

- Você ligou para a sua amiga nos dias em que ela esteve em Barnacle Bay?
- Não.
- E pro seu namorado, você ligou?
- Não, mas, o meu namorado não me ligou também.
- Ah... Jussy, é uma pena que você não admita... assim como o Lars parece não querer admitir, vocês poderiam ser felizes.
- Rick, você poderia ao menos tentar me respeitar? Eu sou sua namorada, entende? Nós usamos um par de alianças ainda.
- Ah, não, eu não uso a minha tem tempos.

Olhei no mesmo instante para a mão dele, e realmente não havia nem sinal da nossa aliança, fiquei um pouco triste pela minha falta de atenção:
- Você está tentando me induzir a admitir uma coisa que não existe, apenas para sair como bonzinho da história, isso sim!
- Claro que não, Justine! Não faço esse gênero, mas só um babaca poderia não ver o quanto você e Lars se dão bem... vocês se entendem com os olhos, vocês não precisam do resto do mundo quando estão juntos, e... isso é um fato! Jussy, você precisava tanto de mim e da Lola, era como se você fosse uma criança, que necessitava de constante atenção, tínhamos que nos falar quatro, cinco vezes ao dia... e isso era o mínimo, ou era comigo, ou era com Lola, você era simplesmente dependente de nós.
- Eu... eu... me desculpe...
- Não! Não quero que você peça desculpas! Eu quero que você veja que quando você e o Lars ficaram sozinhos, você simplesmente esqueceu que eu e Lola existíamos! O Lars é a pessoa ideal pra você, pois você tem esse carinho natural com ele, e não era ele quem cuidava de você, você cuidou dele, entende? 

Bom, eu entendi.

- Eu nunca tinha visto as coisas por esse ângulo... eu... não consegui enxergar.
- E teve todo o episódio do jantar. Nossa, você estava prestes a espancar a Lola, você estava espumando em cima da figura dela, foi hilário.
- Isso não tem a menor graça Rick, você deve ter desencanado de mim há muito tempo pra achar tudo isso hilariante.
- Não vou mentir, eu... desencanei sim  - Ainda que Rick estivesse certo, doeu ouvir tal coisa e me senti um pouco enjoada - Mas, veja... foi um processo natural não tenho nenhum problema com isso, de forma alguma, você... é uma pessoa que eu quero pro resto da vida por perto, Jussy, mas como amiga.
- O.k, então se naquele dia você já tinha notado que eu e Persy... por que jogou Lola pra cima dele daquele jeito, Rick? Sabendo que ela... ela ia estraçalhar a vida dele? Você tem que entender que o Persy, não é o cara que você acha que ele é... ele é frágil demais, e inocente também.
- Ele é virgem. – arregalei os olhos, espantada.
- Como, co...mo você sabe?
- Ah... fala sério! Você não notou que quando estávamos falando de sexo ao lado dele, o quanto ele ficava sem graça? Só faltava vestir uma camiseta escrito “Virgin inside” para assumir de vez!
- Mas, você... e todo aquele papo de tumor?
- Eu só queria ver até onde ele tinha conseguido ir com você, e ele... bom, o cara é transparente demais! Desde que ele colocou os olhos em você, deu pra ver corações voando ao redor dele.
- Você foi maldoso, isso sim.
- Ah, foi muito engraçado... você tentando proteger um cara com aquele tamanho todo, e mestre em artes marciais, foi de chorar de rir depois.
- Ele não é mestre em artes marciais!
- Ele é sim, Jussy... caramba, você não procurou mesmo em saber dele?
- Não, eu não procurei...
- Grande apaixonada você é... - Ele fez cara de indignado - Bom, quando tiver um tempo, assista ao canal 70 como disse... é de história natural, e essas coisas. O Lars tem um ou dois programas diários na grade de programação, e por ter todo esse jeitão de moleque, e ao mesmo tempo fazer um monte de coisas que eu não faria nem que fosse pra eu ganhar milhões, ele tá ganhando muitos pontos de audiência, e sabe, acho que ele é bem famoso até, tá saindo em revistas direto, e estão apontando ele como “O solteiro mais cobiçado do momento” a mulherada tá caindo em cima. Mas, se não tiver estômago para ver o Lars, pulando de Bungee Jump de pontes suspensas, nem nadando com tubarões brancos de três metros de comprimento e enfiando as mãozinhas em buracos cheio de bichos muito, muito esquisitos, pesquisa: Lars Persy Inglesson no Google, tenho certeza que você vai achar alguma coisa a respeito dele.

 Um pouco mais tarde eu fui verificar mesmo, e Rick estava sendo absolutamente sincero em relação ao Persy, ele fazia mesmo todas aquelas loucuras que me deram arrepios, mas deixarei essa parte para depois, afinal eu tinha muita coisa ainda para absorver:
- Tá, o.k... depois eu checo essas informações, agora me diga... Rick, sem querer te ofender.
- Pode perguntar.
- Persy, ainda é... você sabe...
- O quê?
- Ele afinal fez... – eu fiz o gesto do ganso – Com a Lola?
- Lola, bom... Lola estava com muita vontade de tirar o couro do moleque, realmente – Rick riu sozinho – Eu achava que ela o atacaria a qualquer momento – ele me lançou um olhar bem piegas – Então, certo dia, Lola estava realmente disposta a levá-lo para conhecer o seu monte de Vênus, quando eu ouvi Lars dizer algo mais ou menos assim:
“Escuta, Lola, você é uma mulher muito atraente... mas preciso te confessar uma coisa, nós temos algo em comum”
E ela com aquela voz sedutora que você está imaginando, perguntou o que era, e então ele disse:
“Nós dois gostamos de homens, eu sou gay, Lola, completamente e indiscutivelmente gay.”
 Own, ele não fica lindo ainda que confessando ser gay?
 - E você? – Disse eu, muito interessada e animada também.
- Bom, eu me mijei de rir né, ouvi ainda Lola dizer:
 “Você o quê? Você não pode ser gay...”
- E ele a questionou:
 “E por quê, não?”
- E ela respondeu:
“Porque você é muito bonito pra ser um, e seria um desperdício”
- Ele rebateu:
 “Me perdoe por... ser sincero, Lola, não queria te chatear”
- Ela então disse:
 “Então foi por isso que você falou pra Justine que era virgem?”
- Filha da mãe! – Eu disparei, chocada com a audácia de Lola, contar uma coisa que eu tinha feito ela prometer que nunca poderia se espalhar, não sem o meu consentimento, claro que eu quis saber da reação dele:
- E ele, Rick? O que ele disse? Ele me confidenciou isso, sabe? E eu cai na besteira de contar a Lola, aquela Kraken, linguaruda!
- Hum, ele respondeu a ela:
“Foi exatamente por isso, temi que Justine quisesse me apresentar as amigas, e não queria ter que espalhar por ai a minha opção sexual, veja bem... eu não tenho problemas em ser gay, só que preciso preservar a minha imagem, Lola, você sabe como é? Pode me compreender, querida?”
- E a Lola está tão de quatro pelo Lars, que ela engoliria qualquer desculpa, e certamente ela está engolindo muitas coisas por ele, mesmo achando que ele é gay.
- Rá! Lola safada, se ferrou... bem feito, amiga da onça! E o que mais ela anda engolindo por ele, hein? Conte-me tudo, Rick... quero saber com detalhes!
- Jussy, não fique com raiva de mim, por favor.
- Por que eu ficaria?
- Por eu não ter te falado antes.
- O que não me falou antes?
- O contrato do Lars foi fechado, ele e Lola partiram ontem pro Al simhara, e vão ficar por lá por um longo período.