domingo, 7 de outubro de 2012

XL - Miragem


Passei muitas horas caminhando, correndo, caminhando, correndo, e não avistava nada que não fosse areia, e mais areia e mais areia, já estava exausta quando pude notar que o anoitecer se aproximava, e eu comecei a ficar preocupada, pois tinha cumprido um puta trajeto, e nada de novo acontecia a minha frente a não ser o sobe e desce das dunas.


E para o meu completo pavor, a noite chegou... e lá estava eu, no meio do nada, no meio do escuro sem saber pra onde ir, pensei em voltar... quem sabe não encontrava uma daquelas barracas vagas?


Por fim, quando já estava realmente desistindo e voltando para a civilização, o deserto se iluminou completamente, as pirâmides, de repente, surgiram em forma de milagre na minha frente, eu quase chorei de emoção... então comecei a caminhar lentamente, curtindo um pouco o alívio de não ter feito todo aquele trajeto em vão.


Quando o deserto está escuro, e então não há sequer um barulho para te atrapalhar, eu soube exatamente como o Persy se sentia, e percebi o porque dele falar sobre o deserto de uma forma tão mágica. Aquele era um momento único, e por mais que eu estivesse cansada - e eu estava podem apostar - tentei curtir aquilo como o Persy curtia, lembrei-me dele falando do céu do deserto, que era simplesmente um céu perfeito, e então eu pude comprovar, ele tinha razão.
 Imaginei Lola, tendo as mesmas sensações que eu, e tive raiva dela novamente, mas não esqueci que deveria mandá-la sã e salva para os braços do Rick, ou então ele poderia ficar muito bravo comigo, e eu não queria que ele ficasse.
Voltei a focar no céu, deixei a raiva de Lola pra outra ocasião, e desejei profundamente que eu encontrasse o Persy, desejei profundamente que o nosso primeiro beijo fosse sob o céu que ele mais admirava, e que consequentemente era o mesmo que eu passei a admirar.


Quando voltei os olhos para a minha frente, eu mal pude acreditar.
 Estava muito escuro, ainda que as fortes luzes das pirâmides pudessem dar alguma noção de espaço, e ainda que parecesse perto, não estava tão perto assim; Lembrei-me das pessoas que tem miragens no deserto, e desejei que eu não fosse uma delas, pois a minha frente - e eu devo admitir muito e muito na minha frente -  pude enxergar a figura de Persy caminhando solitário, estiquei meus olhos para todos os lugares a procura do Kraken, Lola... mas constatei, Persy estava sozinho.
Lola era realmente a vaca mãe de todas as vacas másteres, como ela poderia ter deixado que ele caminhasse sozinho pelo deserto? Deveria ela estar então no acampamento, aquela vacilona! Mas deixei pra lá, não perderia mais meu tempo com Lola, não naquele momento, então deixei que aquele misto de emoção e saudade, e que a ânsia em abraçá-lo tomassem conta de mim, e dei voz as minhas necessidades chamando-o pelo nome:
- Senhor Inglesson! – Vocês tinham dúvidas de que eu o chamaria assim? Fiquei morta de raiva por Youssef chamar o Persy de “senhor Inglesson”, quando eu ainda não o tinha chamado assim; Mas Persy não parou de caminhar, forçando-me a chamá-lo novamente:
- Lars Persy! – Ele não deixou de caminhar, mas que diabos! Não tinha um ruidinho naquele lugar que não fosse o vento, estava tudo tão quieto que eu podia ouvir até a areia se movimentar, como seria possível ele não me ouvir? Acumulei uma boa quantidade de ar, e então berrei freneticamente:
- Persy! Heeei! Persy! – Bom, foi perfeito, devo confessar... e creio que pude ser ouvida em Bridgeport, pois o nome dele ecoou por todo o deserto, e se ele não parasse de caminhar agora, existiriam três alternativas:
I - Estava tendo uma miragem
II – Persy estava irado comigo e iria me deixar dormir no chão.
III – Ele era surdo.