quarta-feira, 21 de março de 2012

XIII - Mariposa e borboletas


- Eu ligo, mando mensagem, ou um e-mail assim que eu chegar lá. - Disse Ricardo, ao checar pela enésima vez o celular - Tenho que ir, já estou atrasado.


Ele então deu um abraço rápido no Persy, e desejou que as coisas continuassem correndo bem com o projeto Destino Viajante, em seguida despediu-se de mim.


Depois marchou em retirada dizendo:
- Vou sentir saudades, mas... vai passar bem rápido, vocês vão ver.


E assim Rick deixou eu e a figura de Persy plantados no meio da sala.
Logo que a porta se fechou, na ânsia de que as coisas não acabassem no “Será que vai esfriar?” Em pleno verão, acabei bancando a tia louca, e perguntei ao Persy animada:
- E então, o que você quer fazer de diferente?
Persy me encarou por um bom tempo, é claro que eu já tinha caído em mim, e notado o quão ridícula eu tinha acabado de ser ao fazer tal pergunta.
Se ele não fosse uma pessoa tão séria e gentil, tenho certeza de que teria falado:
 “Que tal, irmos à bomboniere mais próxima, e você pode me comprar um monte de chocolates!”


Mas quando eu digo que o Persy é uma pessoa surpreendente, é porque ele é, e ao invés de uma resposta mal educada ele disparou:
- Eu queria conhecer aquela cúpula redonda de vidro que tem um criadouro de borboletas.
Tá, o.k, eu quase pude jurar que ele estava me zoando, só que ele não sorriu no final da frase, ao contrário, depois de esperar pela minha resposta animada, de:
“Então, vamos lá, Persy” que não veio, ele se explicou:
- Lá tem muitas espécimes de borboletas e insetos que eu gostaria de fotografar, e quem sabe, poder pegar algumas para estudo.


E nós acabamos indo mesmo à Esplanada das borboletas.
Persy ficou calado durante todo o percurso, jogando seus olhos para todos os lados, como ele costumava fazer quando estávamos a sós, mas eu não me importei.


E assim que chegamos à Esplanada, eu falei para ele:
- Olha, você pode ir lá... e eu vou ficar por aqui, porque tenho um certo pavor de insetos, coisas com asas, e que por ventura podem vir a grudar no meu cabelo... vou me sentar aqui – expliquei, apontando para o banco - e pode ficar o tempo que quiser, desde que você volte antes do anoitecer, porque tenho que trabalhar... você entende, né?
- Entendo, Justine, não vou demorar, prometo.


Antes que eu dissesse mais alguma merda, o surpreendente Lars Persy, prosseguiu:
- Você está parecendo a minha mãe, quando eu era criança e ela me levava ao parque, sabia?  Você é bem engraçada.

Não sei dizer se era o dia que estava na temperatura ideal, ou se era o sol... Mas, quando Persy sorriu de frente para a minha figura patética, ele me pareceu a criatura mais doce que eu já tinha visto na vida. Os olhos dele brilharam tanto, que eu quase segui em direção a eles, assim como uma mariposa segue em direção à luz.


Felizmente, o grito de uma criança que estava por perto me fez sair do transe e reagir:
- Me desculpa, é que as vezes você me parece tão...
- Ridículo? – Rebateu, de repente, com o ar tristonho.


- Não! Claro que não! Você ridículo?! Imagina! Eu quis dizer... algo como hãm... frágil, mas não consigo achar a palavra exata no momento.
- Infantil – Ele chutou.
- Não, também não... vamos deixar pra lá, outra hora eu lembro.
- Certo, então... já venho.
- Ahãm, vou estar te esperando.


Enquanto o Persy se afastava, comecei uma busca frenética pela palavra que quis usar no lugar de frágil, e após surgirem palavras como: Angelical, doce, frágil novamente, delicado que eu pulei, porque delicado é uma palavra delicada demais para ser usada para homens, meigo e algumas outras nessa linha, e frágil de três em três palavras... Cerca de vinte minutos depois eu a encontrei


No exato momento em que Persy se jogou no banco onde eu estava sentada:
- Pronto, Fotografei – Ele se apressou em dizer – Já podemos ir.
- Inocente – Soltei de supetão, e olhei pra ele que me encarou surpreso por alguns instantes


- Inocente? - Zombou em seguida - Já ouvi muita coisa a meu respeito, mas inocente... é a primeira vez.
A forma como ele se referiu a sua própria inocência teve todo um teor de duplo sentido para o meu cérebro, mas talvez - Só talvez - ele tivesse sendo realmente inocente em sua resposta, e era muito difícil acreditar que não.
- Huum, não consigo achar algo na minha mente que te descreva tão bem, Persy. Você realmente me passa inocência no jeito de ser, pode ser que eu esteja muito enganada.


Ele desviou os olhos para o chão - Mas, ser assim inocente de alguma forma, é bom... pois em uma cidade grande como Bridgeport, pessoas com essa essência não existem mais.


Persy sempre prestava atenção em tudo a sua volta, como se tivesse o dom de absorver qualquer informação, e pude perceber que ele sempre fazia o gesto de entortar levemente o pescoço para a sua direita, e não foi diferente comigo. Enquanto eu refletia sobre sua inocência, ele só faltou puxar o bloco de anotação e, bom... graças a Deus, ele não o fez.


- É engraçado como não conversamos direito durante todo esse tempo, não é? - Reagiu ele, após a minha tese a  respeito de sua essência -  Tenho tentado não te deixar entediada com os meus assuntos... mas, acaba sendo inevitável, pois o Rick está sempre querendo saber de alguma coisa.. e eu, acabo falando mais do que o previsto. Me desculpa por isso, prometo me comportar, pra que você não se aborreça na ausência do Rick.


- Você tá brincando? Tsc... Se eu não tivesse convivido com você por esses dias, até poderia dizer que você está querendo um elogio para massagear o seu ego.
Ele sorriu embaraçado, dizendo em seguida:
- Você é engraçada, Justine... e muito espontânea.
- É, na maioria das vezes.


Estávamos bem soltos um com o outro naquele momento, então me senti pronta para a pergunta que eu estava louquinha para fazer:
- Hei, aproveitando a deixa... posso te perguntar uma coisa?
- Certamente...
Persy abaixou os olhos novamente, ele era inocente de verdade, ou eu estava fantasiando demais sobre aquilo? Ele me parecia um menino assustado, e... frágil... por que não?


- Quantos anos você tem, hein?
- Quantos anos você me dá? - Ele entortou a boca, e digo que minhas entranhas pegaram fogo, pois foi uma das coisas mais sensuais que já tinha visto na vida, perdia até mesmo para as cenas picantes de 9 1/2 semanas de amor, conhecem?
Aquele filme, onde aquele ator o Mickey Rourke, enfia um monte de comida na boca da Kim Basinger enquanto...huum.... foi mais sensual que aquela cena, podem apostar.


- Pelas suas idéias, sua vivência... você me dá a impressão de ser um cara muito maduro - Ele me olhou interessado - “mãs” na idade de aparência, não te dou mais do que vinte e seis.
- Vinte e cinco - Revelou ele, sem suspense - essa é a minha idade.

E eu ganhei a aposta que fiz com Lola, mas não comentei nada com ele, vibrei internamente apenas.


- E a minha, não vai perguntar?
- Vinte e... – Ele olhou dentro dos meus olhos fazendo com que eu me sentisse desarmada, como se ele tivesse lendo a minha alma, e se ele acertasse a minha idade, eu teria a prova em mãos – sete?

Ele errou.


- Não... vinte e nove, sou quase uma tiazinha - Me levantei apressada.
Estava próxima demais, prestes a cometer alguma insanidade, por conta dele ter entortado a boca daquele jeito, e ele se levantou ao meu encalço, zombando do meu comentário:
- Tiazinha! Imagina o que você vai dizer quando estiver beirando os quarenta?


- Deus me livre, garoto! Não quero pensar em catástrofes antes delas serem anunciadas.
Persy gargalhou muito alto, e o seu riso de menino ecoou por toda a Esplanada das borboletas.