quarta-feira, 14 de março de 2012

XI - Faísca


Tirando o evento no qual o Rick me deixou completamente embaraçada na frente do Persy, as coisas continuavam da mesma maneira como vinham sendo até ali, passava quase todos os dias na casa do Ricardo, e ficávamos os três conversando sobre diversos assuntos.
Fazia quase um mês que Persy estava em Bridgeport, e estávamos um pouco mais soltos um com o outro. Entretanto, ele parecia manter uma linha invisível, e muito forte que limitava o nosso convívio.


Tentava demonstrar com sorrisos e simpatia de que não o achava chato, e que também achava a sua companhia muito agradável, mas infelizmente nada adiantava.
O papo sempre fluía muito bem quando estávamos nós três, mas se o Rick por algum motivo se ausentava, a figura do Persy mudava completamente.


Parecia que alguém o tinha enjaulado com um gigantesco tigre de bengala faminto, e podia ver a agonia claramente em sua face... seus olhos não paravam quietos, ele definitivamente os lançava para todos os lados, e a nuvem de tensão entre nós era tão densa, que chegava a deixar o ar pesado.


Quando o Rick demorava, eu era obrigada a arriscar uma conversa que geralmente começava no clima, e se o Rick realmente estivesse disposto a desaparecer por muito tempo, eu esticava o assunto perguntando algo sobre os documentários do Persy...


Ai até que ele relaxava legal, e eu viajava nas suas histórias... ele tinha um jeito daqueles professores universitários que dão um show ao invés de aula, sabem?
A forma como o Persy falava sobre o azul do céu, fazia com que você tivesse vontade de se aprofundar no assunto, querer saber o porque do porque do porque.
Se com algo tão simples eu já pirava, imagina quando ele começava a falar sobre assuntos muito mais complexos?
Parecia que uma parte de mim estava se tornando muito mais culta, como se cada palavra que ele dissesse me fizesse valer um pouquinho mais como pessoa.

Mas esse era o único assunto que o fazia destravar.


No início não dava muita importância para o comportamento dele, mas teve um dia em que eu estava de folga, e quis ficar em casa de bobeira, quando de repente me peguei especulando a vida do Persy - Assim... sem que eu notasse - e logo que percebi o que estava fazendo, me senti um pouco estranha, pois posso dizer que dentro de mim surgiu uma faísca de interesse por ele, porém era óbvio que a pequena faísca teria de ser ignorada.


Então mudei o foco imaginando o porque a faísquinha nasceu, e cheguei rapidamente a conclusão de que, o Lars era diferente de qualquer homem que eu já tinha convivido na vida, e digo que o meu currículo nessa área era muito, muito vasto.
Portanto, sentir-me atraída por ele assim, bem superficialmente... era uma coisa natural, imaginei.


Mas o que eu podia dizer sobre ele? Eu não sabia muito sobre a sua vida particular, apesar de tê-lo ouvido falar horas e horas a fio sobre muitos assuntos, o que eu posso citar a seu respeito são coisas sobre as suas viagens e seus documentários, e que ele nasceu em Hidden Springs, mas só.
Persy nunca comentou qual seria a sua idade, sobre o seu lado pessoal, o seu "eu interior", seus medos, seus sonhos, suas paixões... etc...etc...
Bom, por mais que eu tenha tentado barrar o meu interesse repentino sobre o Persy, vocês devem estar cientes de que no fim eu não consegui.



Eu e Lola até entramos numa de tentar adivinhar quantos anos ele tinha, e mais algumas coisas sobre a vida pessoal dele, e acabamos por apostar uma porção de Dim Sum no Banzai pra quem acertasse, ou chegasse mais perto.


E a partir do dia em que nasceu em mim a minúscula centelha de interesse, todas as vezes que estive na casa do Rick, ficava prestando muito mais atenção nas conversas do Persy, tentando pescar alguma coisa mais íntima, algo que em algum momento eu tenha deixado passar, pois estava realmente ficando muito intrigada com todo aquele jeito dele, de falar tanto e tão bem sobre tantas coisas, e nunca ter dito a sua idade, ou se existia perdida por ai uma "Senhora" Lars Persy, por exemplo.