sábado, 8 de dezembro de 2012

Bridgeport - De volta ao lar



Desembarcamos no aeroporto de Bridgeport às 10:00 A.M, estava fazendo 27º! Dá pra acreditar? Depois de um voo cheio de turbulências e alguns inconvenientes, com câmeras fotográficas e celulares, pois piriguetes de todas as espécies, senhoras casadas e até mesmo homens de aparência muito séria, não nos deixaram dormir direito, a fim de tirar algumas fotos do/ou com o Persy, mas tirando esse infortúnio correu tudo bem, graças a Deus!
Chegamos no meu apartamento por volta das 11:30 A.M, e estamos curtindo uma preguiça, quando na verdade eu deveria estar me descabelando por conta das coisas que devo organizar, e existem alguns detalhes que eu devo listar.

Detalhe número um:
 Ainda não sei pra onde vou.
Tenho que entregar o apartamento - até o meio do mês que vem - e com certeza preciso arrumar um espaço maior, não posso dizer com convicção, mas acredito que o Persy esteja se sentindo um pouco claustrofóbico dentro de casa, e o pior é que teremos que ficar alguns dias por aqui, antes de viajarmos para Hidden Springs. Sim, vamos passar o natal na casa da mãe dele, e eu espero que ela não me odeie, vou fazer o possível para parecer uma boa opção como nora, só não sei se vou conseguir (Já estou nervosa). O réveillon passaremos em Twinbrook - na casa dos meus pais - e espero que papai não me envergonhe.

Detalhe número dois:
Ainda não sei onde vou enfiar os meus móveis, é quase certeza de que eu os venda pra arrecadar uma graninha - Preciso pagar o Rick!!! Ele ainda não me cobrou, e sinceramente estou morrendo de medo de procurá-lo, ainda mais se ele estiver em companhia da Lola, espero não ter que passar as festas em algum cadeião presa por assassinato, meus pais me matariam.

Detalhe número três:
Preciso comprar roupas - Mas meus meios de compra, como sempre, estão em apuros - Não quero ter que conhecer a família do Persy vestida como uma mendiga, no mínimo devo estar apresentável, mas se realmente eu não puder fazer uma boa farra, ao menos um vestido pra noite de natal eu devo providenciar. Agora sem a Lola para me ajudar com esse lance de roupas, desejei morar perto das minhas irmãs, quem sabe elas não me emprestariam algum trapinho descente?

Detalhe número quatro:
Espero do fundo do meu coração que eu consiga me organizar, e não deixar nada para última hora.

 Detalhe número cinco:
Não sei o que fazer para o jantar, andei observando a minha geladeira e... bom, 97% do conteúdo interno é água, em estado líquido e sólido, os outros 3% carne vermelha, das gordas. Estou em apuros, não estou?! Alguém pode me dar uma mãozinha? Tenho um vegetariano em casa!!!

Detalhe número seis:
Estava morrendo de saudades!!!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

XLIV - Prelúdio para felicidade


Bom, poderia passar horas narrando o quanto a nossa primeira vez foi perfeita, no meio de toda aquela areia e tudo mais, porém não vou transformar minha história com Persy em um conto erótico, porque não existe mesmo nada de erótico quando se trata dele.
O que posso dizer a vocês é algo bem clichê, mas senti que encontrei muito mais do que um homem para admirar, para amar, ou para cuidar... Vai muito além, sinto que encontrei a minha tampa da panela, sabem como é? Eu simplesmente soube que ali não seria o fim da minha história feliz, mas o início, pois por detrás de cada final feliz, há um novo começo na vida da gente... e na minha vida não será diferente, podem acreditar.


Vocês devem estar se perguntando:
"E sobre Madame Shade?!"
Eu pensei no que ela me disse há uns três dias, e isso aconteceu enquanto eu caminhava pelo mercado do Al Simhara, e via um encantador de serpentes de verdade!
A cobra de verdade me fez lembrar Lola, e Lola me fez lembrar de Bridgeport, e Bridgeport me fez lembrar dos acontecimentos recentes e consequentemente cheguei na Madame Shade, acho que ela tinha razão sobre muita coisa, especialmente sobre Lola.
Se Lola encontrou um cara para se casar? Sei lá! Não faz muito tempo que estou no deserto, nem sei se ela e Rick se encontraram. Mas, que ela precisa rever seus conceitos como ser humano, com certeza ela precisa.


Enquanto a mim, não me tornei uma intelectual, nem sei se cresci como pessoa, mas de uma coisa a Madame Shade está certa a meu respeito... minha vida mudou radicalmente e em um curtíssimo espaço de tempo, entretanto só vou confiar nela cem por cento quando Persy finalmente enfeitar o meu dedo com um anel de noivado, por enquanto só estou confiando... hãããm noventa e oito, e isso é uma grande coisa!

Fim.


** Agradeço as minhas amigas(os) por estarem sempre comigo, seja nos comentários do blog ou no facebook, por me fazerem rir, pelo carinho, pela paciência e pelas idéias, amo vocês.**

terça-feira, 6 de novembro de 2012

XLIII - Penúltimo Capítulo: Resoluções


- Lola não veio, Juss.
- Ela não veio?
- Claro que não, você a conhece a muito mais tempo do que eu, até onde achou que ela iria conseguir chegar sem ser notada com o seu falso moralismo e falta de princípios?
- Achei que ela estava disposta a enfrentar um oceano a nado, só para provar que era merecedora de sua, hãm... virtude.
- O que você pensa sobre a Lola, bom... Lola estava bem disposta a me levar para a cama – Ah, como eu odiava Lola, senti pena do Rick por ter se encantado por ela – se dispôs a sacrificar a amizade de vocês, mas não era exatamente pela minha virgindade, ah! Não mesmo.
- Então, o que poderia ser?
- Lola queria saber detalhes da minha vida, queria me expor na mídia de uma forma que eu não quero aparecer... Lola estava exercendo o seu lado profissional, um lado dela que você não conhece muito bem, imagino.
Isso eu conhecia sim, mas, ele não precisa ficar sabendo, não é?!


- Mas, então... você é mesmo famoso, Persy?
- Como me achou no meio do deserto, Juss? – Ele levantou uma sobrancelha, e meu Deus! Ele ficou muito lindo!
- Perguntando sobre... você.
- Se deu conta de como está longe de Bridgeport?
- Alguma...
- Então?
- Tudo bem, Senhor Inglesson, o senhor me convenceu.
 Persy sorriu, daquele jeitinho que eu mais gostava, como um menino... como o meu Persy costumava fazer.



Então iniciamos a caminhada em direção a pirâmide, ainda conversando sobre os acontecimentos recentes.
- E o Rick, o que disse a ele? – Perguntou, apreensivo.
- Rick... bom, Rick não me amava mais, Persy, e eu também não o amava mais... ele me fez compreender, que eu estava fazendo tudo errado, em troca de nada, sabe? E me mostrou que eu estava jogando minha felicidade fora, por não saber lidar muito bem com mudanças... mudanças repentinas.
- Ele te deu um fora? – Persy parecia furioso – Como ele pode ter te dado um fora?
- Hei! Que se dane se ele me deu um fora! Eu estou aqui!
- Ah, sim... é verdade, eu sinto muito devo dizer... mas, vocês não formavam um casal legal.
- Acha mesmo?
- Ah, eu acho, de verdade.
- E por que você acha isso?
- Porque você fica muito mais legal comigo, é lógico!
- E você tem razão. – Completei entusiasmada.


De repente, me lembrei do dia do jantar, onde Persy saiu para levar Lola, e demorou muitas horas para voltar; Resolvi que era o momento ideal para tirar de vez a Kraken Lola da minha vida:
- O que tanto você e Lola fizeram naquela noite em que a levou para casa?
 Ele juntou as mãos em forma de bola em frente ao corpo e as esfregou, enquanto jogava os olhos para todas as direções, após um suspiro pesaroso ele respondeu:
- Eu a deixei em casa, e depois fiquei naquela prainha que te levei para ver o pôr do sol, lembra?
- Claro!  – E como poderia um dia me esquecer? – Por que não voltou pra casa? Fiquei preocupada.


- Não estava nada a fim de ver você e o Rick indo pra cama, se eu ficasse por lá... acho que teríamos tido confusões – Ele fechou o rosto, e suas sobrancelhas se uniram -  não gosto nem imaginar o que pode ter acontecido, pois fico com muita... raiva.
- Persy – Eu o puxei em minha direção, e esfreguei o meu polegar nas ruguinhas que surgiram por entre as suas sobrancelhas, e o fiz me encarar – Como poderia ter acontecido alguma coisa entre mim e Rick naquela noite, se... se eu não conseguia parar de pensar em você? Se não preguei os olhos enquanto não o ouvi chegar... se meu peito só ficou mais leve, quando te ouvi sussurrar “ Vamos lá, Lars Persy... um passo de cada vez” – Ele sorriu, e posso jurar que suas bochechas ficaram vermelhas – Foi só depois de te ouvir, que peguei no sono.
- Então,você me ouviu... – Disse ele, visivelmente sem graça..
- Ouvi, o que quis dizer?
- Estava apenas refletindo em voz alta sobre o nosso plano, e imaginando como iria conseguir lidar com toda a situação sem matar alguém, e ainda ter que parecer calmo e feliz.
- Oh, me desculpe por te fazer passar por isso, juro que não vai mais acontecer... Ainda bem que você é perfeito... Persy, e muito, muito precioso, devo até arriscar a dizer que... eu te amo por ser exatamente do jeito que você é.
- Então somos dois, Juss... pois, eu também te amo por ser ninguém mais do que você mesma.


Ele não permitiu que eu respirasse todo o ar que tinha em volta por estar tão satisfeita, e me surpreendeu ao me atirar suavemente no chão de areia fofa, no que me pareceu um golpe de judô, ou sei lá, e então inclinado sobre mim, completou:
- Sabe, Justine, o bom de você estar aqui é que vou poder te provar muitas coisas, uma delas certamente será sobre eu não ser tão “delicadinho” como você pensa; E também vou poder provar que sou eu quem deve cuidar de você; Afinal, eu sou mestre em artes marciais... sendo assim, eu sou o poderoso aqui e você será a minha protegida.

É claro que depois de tantas declarações nos beijamos, e finalmente rolamos por toda aquela areia, coisa que eu estava com muita vontade de fazer.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

XLII - Clichês

Então, agora é a hora dos clichês, não dá pra fugir muito disso quando estamos falando de romance, não é? Vamos lá... é igual a injeção, dói no começo, mas depois você se acostuma e até pensa que pode facilmente passar por isso outra vez:


- Meu Deus do céu, Justine, o que você está fazendo aqui no meio do deserto, sua louca?!
- Persy... eu, vim te ver!
- Você tem noção do que você fez? Você poderia ter se perdido, poderia ter se machucado, poderia ter...
- Mas... não aconteceu, e eu estou aqui! Não completamente inteira, pois estou muito cansada...
 - Oh, Juss... oh... - Ele resmungou, me puxando novamente em sua direção, agora me abraçando com muita força, e então conseguiu juntar algumas palavras – eu não faço idéia de como você chegou até aqui, e nem consigo imaginar qual foi a desculpa que você deu para o Rick, mas... estou muito feliz por te ver.
 E então foi a minha vez de apertá-lo enquanto me explicava:
- Não importa como foi que eu cheguei até aqui, pois se passei por algum momento difícil eu já consegui esquecê-lo, só por estar te abraçando nesse momento.
Ele quase me esmagou tamanha era a força dos seus bracinhos frágeis ao meu redor, bom, talvez não fossem tão frágeis assim como eu imaginara até então:
- Pensar em você no meio do deserto sem ninguém para te proteger foi demais para o meu coração, não consegui, Persy... tenho que proteger você, entende?
Ele me soltou, e me encarou de forma muito séria, nem preciso comentar o quanto ele estava maravilhoso naquele cenário, pois isso já é de se esperar:
- Juss, não é você que tem que me proteger, eu sei me cuidar... não entendo essa sua fissura em relação a mim, não é por que eu nunca... sabe? – Ele fez o gesto de afogar o ganso com a mão e eu quase me mijei de rir, mas só por um instante, pois continuei prestando atenção nele – Que eu não saiba me virar... e modéstia a parte, eu sei fazer isso muito bem. - Eu não concordava, de maneira nenhuma, você não deixa um bebê em casa por horas a fio sozinho, esperando que ele se alimente corretamente, que se mantenha longe das tomadas e coisas perigosas, concordam? - Agora, você não pode sair por ai fazendo esse tipo de loucura, você não deveria ter feito isso de forma alguma, Justine!
Persy parecia estar um pouco bravo agora, estaria eu então estragando a sua viagem com a Kraken traidora? Abaixei a cabeça tentando absorver a sua lição de moral, não era exatamente esse o tipo de reação que eu esperava dele, achei que fossemos nos agarrar e rolar pelas dunas sem medo algum de sermos felizes, não esperei mesmo que ele fosse de repente, chamar a minha atenção:
 - Me desculpe... eu, não queria estragar a sua viagem... – Ele não respondeu, e o único barulho entre nós era o vento e o meu coração, fiquei curiosa afinal, porque diabos ele não continuava com o sermão, e me mandava embora de uma vez? Seria bem menos torturante.


Então levantei a cabeça para encará-lo novamente, ele continuava muito sério, mas lentamente seu rosto foi ficando mais leve, e então ele ergueu um dos lados da boca esboçando o que seria o seu sorriso simpático, talvez? Eu fiz o mesmo por sentir que ele tinha ficado mais maleável, e então ele voltou a falar:
 - Você não está estragando a minha viagem, Juss, você não sabe o quanto estou feliz, e nem pode saber realmente o tamanho da minha felicidade por te ver, por você estar aqui... mas, você não poderia correr tantos perigos assim, por que não me esperou no acampamento? Não deveria ter se enfiado no meio do deserto... você poderia ter se machucado de verdade, existem serpentes por aqui, e são extremamente venenosas, você poderia também ter se perdido, e Deus sabe se algum dia iríamos te encontrar viva... Juss, o deserto não é o que parece ser, ele é traiçoeiro, você não pode, não deve nunca caminhar sozinha, não... não pode, é perigoso demais, entendeu?


- Sim... – respondi chorosa – eu entendi, mas você está aqui... e está sozinho!
- Eu conheço o território, eu consigo ver de onde o perigo vem, sou velho de guerra nesse quesito, você não!
 - Para de brigar comigo, Persy, por favor... – reclamei por fim, já quase chorando de verdade.
- Ah... me desculpa, me desculpa... vem cá... – Ele me puxou de volta para o seu corpo, de alguma forma me senti muito protegida – Só prometa que não vai fazer isso de novo... promete?
- Eu prometo. – Jurei em falso, pois faria tudo de novo, e de novo e de novo.
- Não estou brigando com você porque estou bravo... estou brigando, porque se um dia soubesse que algo de ruim te aconteceu, por você ter vindo atrás de mim, eu não iria me perdoar, porque... – Eu o encarei, e seus olhos estavam nos meus, estavam meio apavorados até o momento, mas antes dele dar continuidade as palavras, eles tornaram-se doces – porque não suportaria perder você.
 - Você não pode então me julgar, por ser irresponsável... pois só fiz tudo isso, porque eu não suportei te perder, ainda que supostamente... ainda que soubesse que você estava vivo e bem, eu quase me joguei pela janela quando soube que Lola tinha vindo com você pra cá! Fiquei louca, Persy... não consigo lidar com essa situação, é demais pra mim! E por falar nela, onde está aquela devoradora de homens?

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

XLI - Surpreendida


Felizmente todas as alternativas foram descartadas, vi então em câmera lenta a figura distante de Persy parar, e girar a cabeça para os lados, aproveitei para dar mais um berro daqueles, antes que ele achasse que estava tendo alucinações:
- Persy!!! Persy!!!


Ele virou-se em minha direção, e finalmente ouvi o meu nome com a sua voz:
- Justine?! – E então ele começou a correr em minha direção, ao mesmo tempo que eu comecei a correr em direção a ele. E nós seguimos chamando um pelo outro por cerca de dois minutos e meio, e vocês devem estar pensando agora:
 “Que coisa exaustiva”
 E eu respondo... realmente foi exaustivo, minha garganta secou horrores, mas eu queria que tudo tivesse um quê de magia e romantismo de filme Hollywoodiano, não me importei então em estar com a garganta seca, pois sabia que quando fosse contar a história algumas semanas após o ocorrido nem iria me lembrar disso.


Então, finalmente estávamos prestes a nos encontrar, e estávamos a poucos metros disso acontecer, Persy parou de correr, eu fiz o mesmo e não sei dizer o porque, acho que apenas reagi a ele. Permaneci parada, e Lars Persy avançou muitos e muitos passos a mais, e sem que eu tivesse notado, fechei os olhos esperando pelo beijo, que veio em seguida... uma frase para descrever o momento? Foi lindo, como era de se esperar... e digo que me surpreendi com a sua forma de beijar, pois posso dizer que ele beija muito, muito bem; Não que em qualquer momento eu tivesse alguma duvida disso, não esperava nada dele que não fosse perfeito, mas imaginei que ele não tivesse experiência o suficiente, nada que com algum tempo de prática não pudesse melhorar, o fato era que ele não precisava melhorar nada, seu beijo estava na medida exata.

domingo, 7 de outubro de 2012

XL - Miragem


Passei muitas horas caminhando, correndo, caminhando, correndo, e não avistava nada que não fosse areia, e mais areia e mais areia, já estava exausta quando pude notar que o anoitecer se aproximava, e eu comecei a ficar preocupada, pois tinha cumprido um puta trajeto, e nada de novo acontecia a minha frente a não ser o sobe e desce das dunas.


E para o meu completo pavor, a noite chegou... e lá estava eu, no meio do nada, no meio do escuro sem saber pra onde ir, pensei em voltar... quem sabe não encontrava uma daquelas barracas vagas?


Por fim, quando já estava realmente desistindo e voltando para a civilização, o deserto se iluminou completamente, as pirâmides, de repente, surgiram em forma de milagre na minha frente, eu quase chorei de emoção... então comecei a caminhar lentamente, curtindo um pouco o alívio de não ter feito todo aquele trajeto em vão.


Quando o deserto está escuro, e então não há sequer um barulho para te atrapalhar, eu soube exatamente como o Persy se sentia, e percebi o porque dele falar sobre o deserto de uma forma tão mágica. Aquele era um momento único, e por mais que eu estivesse cansada - e eu estava podem apostar - tentei curtir aquilo como o Persy curtia, lembrei-me dele falando do céu do deserto, que era simplesmente um céu perfeito, e então eu pude comprovar, ele tinha razão.
 Imaginei Lola, tendo as mesmas sensações que eu, e tive raiva dela novamente, mas não esqueci que deveria mandá-la sã e salva para os braços do Rick, ou então ele poderia ficar muito bravo comigo, e eu não queria que ele ficasse.
Voltei a focar no céu, deixei a raiva de Lola pra outra ocasião, e desejei profundamente que eu encontrasse o Persy, desejei profundamente que o nosso primeiro beijo fosse sob o céu que ele mais admirava, e que consequentemente era o mesmo que eu passei a admirar.


Quando voltei os olhos para a minha frente, eu mal pude acreditar.
 Estava muito escuro, ainda que as fortes luzes das pirâmides pudessem dar alguma noção de espaço, e ainda que parecesse perto, não estava tão perto assim; Lembrei-me das pessoas que tem miragens no deserto, e desejei que eu não fosse uma delas, pois a minha frente - e eu devo admitir muito e muito na minha frente -  pude enxergar a figura de Persy caminhando solitário, estiquei meus olhos para todos os lugares a procura do Kraken, Lola... mas constatei, Persy estava sozinho.
Lola era realmente a vaca mãe de todas as vacas másteres, como ela poderia ter deixado que ele caminhasse sozinho pelo deserto? Deveria ela estar então no acampamento, aquela vacilona! Mas deixei pra lá, não perderia mais meu tempo com Lola, não naquele momento, então deixei que aquele misto de emoção e saudade, e que a ânsia em abraçá-lo tomassem conta de mim, e dei voz as minhas necessidades chamando-o pelo nome:
- Senhor Inglesson! – Vocês tinham dúvidas de que eu o chamaria assim? Fiquei morta de raiva por Youssef chamar o Persy de “senhor Inglesson”, quando eu ainda não o tinha chamado assim; Mas Persy não parou de caminhar, forçando-me a chamá-lo novamente:
- Lars Persy! – Ele não deixou de caminhar, mas que diabos! Não tinha um ruidinho naquele lugar que não fosse o vento, estava tudo tão quieto que eu podia ouvir até a areia se movimentar, como seria possível ele não me ouvir? Acumulei uma boa quantidade de ar, e então berrei freneticamente:
- Persy! Heeei! Persy! – Bom, foi perfeito, devo confessar... e creio que pude ser ouvida em Bridgeport, pois o nome dele ecoou por todo o deserto, e se ele não parasse de caminhar agora, existiriam três alternativas:
I - Estava tendo uma miragem
II – Persy estava irado comigo e iria me deixar dormir no chão.
III – Ele era surdo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

XXXIX - AL Simhara III


Youssef sorriu simpático para mim:
- Então, onde ele está, hein? Sabe me informar em que hotel ele está hospedado?
Youssef sorriu novamente, agora debochando de mim, pude sentir, e então falou na língua enrolada alguma coisa como:
"Dsauhafafa lapububele Inglesson hahaha ijdaijdsaekekepuuuuf"
E todos que estavam por perto riram também, e é claro que todos, assim como Youssef, estavam debochando de mim.
Aquilo era um péssimo começo, e nada bom para o turismo local, eu mesma seria uma pessoa que iria meter o pau nessa recepção nada calorosa com os turistas:
 - O.k, não entendi a piadinha interna, mas... é caso de vida ou morte, sabe? Eu preciso encontrar ele com urgência, Youssef!


- Bom, Justine... vejo que nunca esteve em Al Simhara. – Mas qual era a dúvida? Eu não estar vestindo uma camiseta de souvenir, ou não falar a língua deles?
- Não, realmente nunca estive, poderia explicar pra você com detalhes tudo sobre mim, mas... agora não tenho tempo!
- Não temos hotéis aqui, e todos os turistas ficam hospedados em suas barracas na base de turismo.
- Ahh, isso faz algum sentido... - Era um local horrível certamente, mas também era o local mais movimentado dali. – O Persy, está lá?
- Persy?
- O senhor Inglesson! Pelo amor de Deus!
- Ah sim... bom, o Senhor Inglesson saiu com a comitiva há cerca de duas horas em direção a pirâmide de Gizé.
- E quando sai a próxima comitiva? – Indaguei já puxando meu porta moedinhas, para contar as merrecas.
- Daqui cinco dias.
- Como?
- Cinco dias, senhora Justine.

Não, não, aquilo não poderia estar acontecendo, não comigo! Não poderia ficar ali, durante cinco dias plantada esperando que o Persy aparecesse miraculosamente. De repente, eu me lembrei das histórias que ele contava, e do tempo considerável que ele passava enfiado nas tumbas, aquilo estava começando a se parecer muito com um pesadelo, então com a voz chorosa eu reclamei:
- Mas, que merda... vim de tão longe, estou sem dormir há um tempão, não sei nada da cultura local, e... que merda! Naquela altura eu já estava fungando.
- Deixa eu ver se posso fazer algo pela senhora, já comprou a comida seca?
- Não, aonde vende?
- Aquela mulher – ele apontou pra mulher do bolinho de barro – Ela vende comida seca.
- Ela tava tentando me vender uns bolinhos de barro, mas... eu não tenho interesse em andar por ai com bolinho de barro.
- Não são bolinhos de barro! É a comida seca, senhora Justine!
Aquilo viscoso, é de comer? Urghh eu nunca, nunca conseguiria colocar aquilo na boca, preferia passar fome, mas, de qualquer maneira, acabei comprando por medo do Youssef não me ajudar, porque afinal eles deveriam viver de turismo imaginei.


Ele ainda quis que eu comprasse um saco de dormir ou uma barraca, mas eu expliquei a ele que não poderia seguir pelo deserto com todo esse peso em mãos, e ele acabou concordando, ainda que tenha me alertado que seria impossível eu conseguir dormir sem um dos dois, mas pensei comigo, se eu tivesse sorte e Lola ainda não tivesse convencido o Persy a não ser mais gay, quem sabe ele me daria uma pontinha do seu saco de dormir? Iria então depositar minhas esperanças nesse pensamento.
Por fim, depois de toda a ajuda do Youssef, finalmente segui em direção a pirâmide, e o ouvi dizer ao longe:

- Não tem como errar, Senhora Justine! Ele seguiu para a pirâmide maior, a maior não se esqueça!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

XXXVIII - Al Simhara II


Enfim, segui para a primeira casa? Loja? Coisa? Que encontrei, e fui feliz e saltitante perguntar ao balconista se ele conhecia o Persy e se sabia para onde ele tinha ido.
Devemos nos lembrar que eu estava dois dias atrás de Persy, era provável que ele já estivesse enfiado em alguma tumba; De qualquer maneira, após a informação seria muito mais fácil encontrá-lo, ai era só uma questão de me localizar, concordam?
Pois bem, o meu erro foi ter me esquecido do conselho do Rick ao dizer que a comunicação seria bem complicada, é claro que eu não entendia merda nenhuma do que aquele homem estava falando, e para o meu maior azar, ele parecia me entender muito menos.


Resolvi deixar o estabelecimento em busca de ajuda em outro lugar.
 Fui abordada por uma moça simpática que estava muito a fim de vender suas bugigangas, acho que por eu ser gringa, ela realmente estava disposta a me fazer comprar:
- Não minha senhora, entenda... – Nessa parte além de falar, eu estava fazendo gestos frenéticos - eu não quero esse negocinho, nem sei para que serve! – Disse a ela que me empurrava um montinho de barro.


E depois de quase quarenta minutos tentando me comunicar com alguém, e quase empunhando um pedaço de papel e uma caneta para começar a desenhar, houve um burburinho e finalmente ouvi alguém falar a minha língua:
- Forasteira – Disse o homem, com um sotaque engraçado.
- Oh! Graças a Deus, alguém que fala a minha língua!
- Olá, me chamo Youssef.
- Olá, me chamo Justine. – Não nos cumprimentamos com dois beijinhos.
- Deseja alguma informação? - Eu fui direto ao assunto.
 - Sim, eu... estou procurando um homem, e gostaria de saber se o senhor, de repente, não o conhece, sabe? Ele é alto, muito bonito, de porte atlético, apesar de ser muito frágil e inocente devo deixar claro, de olhos esverdeados, cabelos negros de pele clara, e...
- O senhor Inglesson?
- Não, não... senhor não, ele é um rapaz...
- O Senhor Inglesson... ele bate exatamente com o sujeito que a senhora acaba de descrever .
- Hum... Senhor Inglesson, entendi. Só por curiosidade, Lars é o o primeiro nome? Ou último não sei qual é a de vocês aqui.
- Hãm... Lars é sim... Lars.
- Oh! Que maravilha! Estamos então falando realmente da mesma pessoa e começando a nos entender.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

XXXVII - Al Simhara


Claro que a viagem demorou décadas, e eu estive muito nervosa durante todo o tempo, não consegui dormir nenhum pouquinho, se bem que não dormir foi uma coisa muito boa, porque usei o tempo para tentar decorar o mapa local que o Rick havia descolado na internet, e digo pra vocês com toda a sinceridade, é um mapa bem complicado, mas levei em consideração que não deveria ser difícil localizar as pirâmides pelo menos, pois aparentemente, e por tudo o que eu havia estudado e visto de imagens delas durante a vida, podia dizer com certeza que elas eram enormes.
Vocês não devem estar interessados em saber o quanto foi desagradável passar tanto tempo dentro de um avião, eu imagino... e tão pouco em saber quantas vezes eu precisei usar a apartada cabine para aliviar minhas necessidades fisiológicas, também não devem estar com um pingo de vontade de saber o que foi servido nas refeições, e muito menos em saber...

O.k, vou pular isso.



Quando cheguei no Egito, o deserto não era ao lado do aeroporto, então ainda tive que fazer uma pequena viagem... coisa de quatro horas em um ônibus, mas felizmente eu consegui chegar sã e salva no deserto, e fiquei contente por isso.
Nos deixaram numa espécie de base turística, se bem que parecia muito mais com um acampamento grotesco, imaginei Lola ali, e pude me deliciar ao vislumbrar a sua face horrorizada com tudo aquilo.
E então, após ter dado uma olhada pelo local, voltei a pegar o mapa. Não poderia sair como uma louca atrás das pirâmides, vocês sabem... e se eu viesse a me perder? Apesar delas serem enormes eu corria sérios riscos de caminhar em direção contrária, então localizei no mapa o simpático mercado, e decidi que iria para lá, atrás de informações sobre o Persy.
Quando cheguei no local, fiquei fascinada, era tudo tão diferente! Eu conhecia Bridgeport muito bem e Twinbrook também, mas, nunca tinha sequer ultrapassado os limites dessas cidades, e pra mim Bridgeport era um lugar muito complicado de se localizar, por todos os arranha céus e por seu tamanho, mas digo que o deserto era bem mais difícil fazer isso. Pois não existem placas explicativas, por exemplo: Rua X, do número 200 ao 300, não existe mesmo, então soube o quanto Persy realmente deveria se divertir comigo, achando que ele pudesse se perder em um lugar como Bridgeport que tinha mapas espalhados por toda a cidade nas entradas do metrô.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

XXXVI - Admita se for capaz II


Meu queixo caiu ao saber que Lola, com toda a sua influência, fez questão de acompanhar o Persy em sua nova aventura; Porém, ao contrário do que Rick temia, eu não fiquei com raiva dele, fiquei mesmo com raiva de mim, por não ter tido confiança em Persy, por não ter confiado nos seus princípios fiéis, e por eu não ter um centavo na minha poupança, e nada que pudesse vender para ir atrás dele.
Lola então atravessou o oceano a nado, e se enfiou no meio do deserto por ele, e eu aqui bancando a traída, e agora eu me ferrei, e me ferrei de vez.
 Desabei no sofá sob o peso do meu próprio corpo, e lamentei comigo mesma:
- Que droga, e eu não tenho um tostão furado para que eu possa me redimir... como sou otária! Bom, sou um fracasso realmente.
Rick sentou-se ao meu lado, compartilhando por algum tempo da minha aflição:
- Se eu tivesse enxergado antes que meu emprego na verdade era um hobbie, teria algum para financiar a minha viagem, mas... e agora, Rick? O que vou fazer, se... o dinheiro que eu tenho para receber, vou ter que pagar o aluguel, a água a luz e o telefone, sem contar nas despesas com alimentação? Você sabe, quando pago as contas me torno uma miserável.
- Você está disposta a ir atrás dele, Jussy?
- É tão horrível ter que admitir isso pra você... – Ele me lançou um olhar e sorriso terno – Mas, acho que no momento estou disposta a vender todos os meus móveis, todas as minhas roupas, e encerrar o contrato com a imobiliária só para ir atrás do Persy.
 - Se você se sente assim, então vamos dar um jeito nisso agora mesmo.
- Como assim? Que parte do “eu não tenho um tostão furado e me torno uma miserável após pagar as minhas contas” você não entendeu?
- Ao contrário de você, eu tenho um emprego que me paga bem, e tenho uma poupança até que razoável, Justine... sua cabeça de vento! Vamos, vou te emprestar a grana... - Disse Rick, me puxando pela mão.
- Mas... e como vou te pagar? – Rick parou, apenas com a intenção de me encarar, e disse:
- Quando você tiver um emprego descente, você me paga – Eu iria agradecê-lo eternamente por ele estar sendo tão maravilhoso comigo, mas ele não permitiu e continuou a falar – Bom, e também, se não for pedir demais... mande Lola de volta, sã e salva, e... diga que estou esperando por ela. – Agora eu iria xingá-lo, mas pensando bem... poderíamos fazer essa troca de favores sem maiores complicações.
Então, Rick voltou a me puxar pela mão enquanto ia dizendo:
- Espero que o seu passaporte não tenha vencido, sabe? E que sua vacinação esteja em dia também.
 Eu nem sei explicar o porque, mas... miraculosamente estava tudo em dia.
Rick ainda me alertou sobre a comunicação no meio do deserto, que seria um pouco complicado por causa das línguas tão distintas, disse para eu dar uma pesquisada sobre linguagem manual, para que não fosse presa por desacato e nada parecido, e após me dar um bilhão de conselhos que eu não consegui absorver, ele disse:
- Você terá problemas só até encontrar o Lars, depois você vai poder relaxar e deixar tudo por conta dele, afinal ele é quase um cidadão local, e nem sei como ainda não recebeu a chave da cidade, mas acho que isso é questão de tempo, logo logo ele receberá, com certeza.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

XXXV - Admita se for capaz



- Não é de mim que você precisa, Justine - Eu abri a boca para protestar, mas não tive tempo
– Você precisa de mim apenas como amigo, e vamos lá... admita pelo amor de Deus, você está completamente apaixonada pelo Lars!

 Calúnia! Como o Ricardo poderia dizer algo dessa proporção... ele era meu namorado ainda, e tinha sido por anos!

- Você está louco! De onde tirou essa idéia maluca?!
- Você não quer exatamente que eu narre tudo, não é? – Eu continuava olhando pra ele com um espanto sem tamanho – Tá, tudo bem, vou te refrescar. Posso apostar que você está morta de ciúmes porque Lars e Lola estão saindo juntos.
- Não estou com ciúmes, só... hãm... chateada porque Lola me abandonou.
- O.k, então me diga, porque não apresentou Lola ao Lars sabendo que eles tinham afinidades?
- Hãm... porque não tive oportunidades.
- Mesmo tendo um celular, e conversando com Lola todos os dias?
- Lola não esteve por aqui o tempo todo também, ela viajou a Barnacle Bay, e passou um tempão por lá. 

Muito bem Justine, essa foi de mestre!

- Você ligou para a sua amiga nos dias em que ela esteve em Barnacle Bay?
- Não.
- E pro seu namorado, você ligou?
- Não, mas, o meu namorado não me ligou também.
- Ah... Jussy, é uma pena que você não admita... assim como o Lars parece não querer admitir, vocês poderiam ser felizes.
- Rick, você poderia ao menos tentar me respeitar? Eu sou sua namorada, entende? Nós usamos um par de alianças ainda.
- Ah, não, eu não uso a minha tem tempos.

Olhei no mesmo instante para a mão dele, e realmente não havia nem sinal da nossa aliança, fiquei um pouco triste pela minha falta de atenção:
- Você está tentando me induzir a admitir uma coisa que não existe, apenas para sair como bonzinho da história, isso sim!
- Claro que não, Justine! Não faço esse gênero, mas só um babaca poderia não ver o quanto você e Lars se dão bem... vocês se entendem com os olhos, vocês não precisam do resto do mundo quando estão juntos, e... isso é um fato! Jussy, você precisava tanto de mim e da Lola, era como se você fosse uma criança, que necessitava de constante atenção, tínhamos que nos falar quatro, cinco vezes ao dia... e isso era o mínimo, ou era comigo, ou era com Lola, você era simplesmente dependente de nós.
- Eu... eu... me desculpe...
- Não! Não quero que você peça desculpas! Eu quero que você veja que quando você e o Lars ficaram sozinhos, você simplesmente esqueceu que eu e Lola existíamos! O Lars é a pessoa ideal pra você, pois você tem esse carinho natural com ele, e não era ele quem cuidava de você, você cuidou dele, entende? 

Bom, eu entendi.

- Eu nunca tinha visto as coisas por esse ângulo... eu... não consegui enxergar.
- E teve todo o episódio do jantar. Nossa, você estava prestes a espancar a Lola, você estava espumando em cima da figura dela, foi hilário.
- Isso não tem a menor graça Rick, você deve ter desencanado de mim há muito tempo pra achar tudo isso hilariante.
- Não vou mentir, eu... desencanei sim  - Ainda que Rick estivesse certo, doeu ouvir tal coisa e me senti um pouco enjoada - Mas, veja... foi um processo natural não tenho nenhum problema com isso, de forma alguma, você... é uma pessoa que eu quero pro resto da vida por perto, Jussy, mas como amiga.
- O.k, então se naquele dia você já tinha notado que eu e Persy... por que jogou Lola pra cima dele daquele jeito, Rick? Sabendo que ela... ela ia estraçalhar a vida dele? Você tem que entender que o Persy, não é o cara que você acha que ele é... ele é frágil demais, e inocente também.
- Ele é virgem. – arregalei os olhos, espantada.
- Como, co...mo você sabe?
- Ah... fala sério! Você não notou que quando estávamos falando de sexo ao lado dele, o quanto ele ficava sem graça? Só faltava vestir uma camiseta escrito “Virgin inside” para assumir de vez!
- Mas, você... e todo aquele papo de tumor?
- Eu só queria ver até onde ele tinha conseguido ir com você, e ele... bom, o cara é transparente demais! Desde que ele colocou os olhos em você, deu pra ver corações voando ao redor dele.
- Você foi maldoso, isso sim.
- Ah, foi muito engraçado... você tentando proteger um cara com aquele tamanho todo, e mestre em artes marciais, foi de chorar de rir depois.
- Ele não é mestre em artes marciais!
- Ele é sim, Jussy... caramba, você não procurou mesmo em saber dele?
- Não, eu não procurei...
- Grande apaixonada você é... - Ele fez cara de indignado - Bom, quando tiver um tempo, assista ao canal 70 como disse... é de história natural, e essas coisas. O Lars tem um ou dois programas diários na grade de programação, e por ter todo esse jeitão de moleque, e ao mesmo tempo fazer um monte de coisas que eu não faria nem que fosse pra eu ganhar milhões, ele tá ganhando muitos pontos de audiência, e sabe, acho que ele é bem famoso até, tá saindo em revistas direto, e estão apontando ele como “O solteiro mais cobiçado do momento” a mulherada tá caindo em cima. Mas, se não tiver estômago para ver o Lars, pulando de Bungee Jump de pontes suspensas, nem nadando com tubarões brancos de três metros de comprimento e enfiando as mãozinhas em buracos cheio de bichos muito, muito esquisitos, pesquisa: Lars Persy Inglesson no Google, tenho certeza que você vai achar alguma coisa a respeito dele.

 Um pouco mais tarde eu fui verificar mesmo, e Rick estava sendo absolutamente sincero em relação ao Persy, ele fazia mesmo todas aquelas loucuras que me deram arrepios, mas deixarei essa parte para depois, afinal eu tinha muita coisa ainda para absorver:
- Tá, o.k... depois eu checo essas informações, agora me diga... Rick, sem querer te ofender.
- Pode perguntar.
- Persy, ainda é... você sabe...
- O quê?
- Ele afinal fez... – eu fiz o gesto do ganso – Com a Lola?
- Lola, bom... Lola estava com muita vontade de tirar o couro do moleque, realmente – Rick riu sozinho – Eu achava que ela o atacaria a qualquer momento – ele me lançou um olhar bem piegas – Então, certo dia, Lola estava realmente disposta a levá-lo para conhecer o seu monte de Vênus, quando eu ouvi Lars dizer algo mais ou menos assim:
“Escuta, Lola, você é uma mulher muito atraente... mas preciso te confessar uma coisa, nós temos algo em comum”
E ela com aquela voz sedutora que você está imaginando, perguntou o que era, e então ele disse:
“Nós dois gostamos de homens, eu sou gay, Lola, completamente e indiscutivelmente gay.”
 Own, ele não fica lindo ainda que confessando ser gay?
 - E você? – Disse eu, muito interessada e animada também.
- Bom, eu me mijei de rir né, ouvi ainda Lola dizer:
 “Você o quê? Você não pode ser gay...”
- E ele a questionou:
 “E por quê, não?”
- E ela respondeu:
“Porque você é muito bonito pra ser um, e seria um desperdício”
- Ele rebateu:
 “Me perdoe por... ser sincero, Lola, não queria te chatear”
- Ela então disse:
 “Então foi por isso que você falou pra Justine que era virgem?”
- Filha da mãe! – Eu disparei, chocada com a audácia de Lola, contar uma coisa que eu tinha feito ela prometer que nunca poderia se espalhar, não sem o meu consentimento, claro que eu quis saber da reação dele:
- E ele, Rick? O que ele disse? Ele me confidenciou isso, sabe? E eu cai na besteira de contar a Lola, aquela Kraken, linguaruda!
- Hum, ele respondeu a ela:
“Foi exatamente por isso, temi que Justine quisesse me apresentar as amigas, e não queria ter que espalhar por ai a minha opção sexual, veja bem... eu não tenho problemas em ser gay, só que preciso preservar a minha imagem, Lola, você sabe como é? Pode me compreender, querida?”
- E a Lola está tão de quatro pelo Lars, que ela engoliria qualquer desculpa, e certamente ela está engolindo muitas coisas por ele, mesmo achando que ele é gay.
- Rá! Lola safada, se ferrou... bem feito, amiga da onça! E o que mais ela anda engolindo por ele, hein? Conte-me tudo, Rick... quero saber com detalhes!
- Jussy, não fique com raiva de mim, por favor.
- Por que eu ficaria?
- Por eu não ter te falado antes.
- O que não me falou antes?
- O contrato do Lars foi fechado, ele e Lola partiram ontem pro Al simhara, e vão ficar por lá por um longo período.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

XXXIV - Papo reto


Passado o tempo de tentar dar um up, e o tempo de completa nostalgia, eu me entreguei aos dias de sofá e depressão, e foi em um desses dias de sofá e de muita reflexão que eu me dei conta de como tudo estava estranho em minha volta, sabem?
Pensei em mim e no Ricardo, não fazia muita idéia de quanto tempo ele havia voltado da China, eu ainda me encontrava perdida em datas, e tentei me lembrar em que momento após a sua volta tínhamos ido para a cama. Nós dormimos juntos muitas noites, mas não transamos, então fazia cerca de um mês e meio que estávamos sem sexo, quero dizer... será que ele estava correndo sérios riscos de ter um tumor no saco, ou ele estava se aliviando por ai? Enquanto eu me encontrava ocupada demais tomando conta da vida do Persy e da Lola?
Eu o esperei pacientemente, e se tivesse um rolo de macarrão em casa, podem apostar que estaria em punho, infelizmente não tinha, então estava de mãos limpas.
Quando ele chegou, trajava além de sua roupa social de trabalho, um rosto parcialmente preocupado; E assim que ele se aproximou me questionou:
- O que foi, Jussy?
 Eu poderia enrolá-lo por horas, a fim de fazê-lo se entregar e tropeçar nas próprias mentiras, mas decidi que iria usar a filosofia do Persy, sinceridade doa a quem doer:
- Rick, me fale... você já está com um tumor no testículo, ou anda se aliviando por ai? - Eu o peguei completamente desprevenido, e vocês precisavam ver a cara dele, foi de matar.
- Oh, Jussy... não estou me aliviando por ai.
- Então, está com um tumor?
- Também não... – Ele respondeu rapidamente.
- Então o que está acontecendo?
Ele suspirou e abaixou a cabeça, mantendo os olhos em direção as mãos, e então começou a falar:
- Jussy, eu... eu gosto demais de você, de verdade... mas, já tem um tempo que, eu venho pensando....
 Ele fez uma pausa, não sei se para ganhar tempo, ou para respirar, só que eu não estava no meu dia de paciência, então exigi:
- Desenvolve, Rick.
- Nos damos muito bem, e tudo, mas, acho que não nos amamos, não da forma como deveríamos nos amar.
- Como assim?
- Veja, estamos sempre juntos, e somos cúmplices em muitas coisas, mas... falta alguma coisa entre nós. Acho que somos amigos, Justine... acho que no fundo nós dois sabemos disso, só que estamos juntos há tanto tempo... que nos esquecemos.
 - Você não, não me deseja mais? – Disse eu, chorosa.
- Ah, Jussy, como não desejar você? Você é tão bonita... mas, nos saciamos das nossas conversas, você pode notar? Quero dizer, muitas vezes vamos para a cama com a real intenção de transar, só que quando chegamos na cama, nos perdemos em assuntos e acabamos a noite conversando.
 É, ele tinha razão, e fazendo uma pequena reprise isso se tornou muito evidente.
 - E por que você não me falou isso antes, Rick?
- Não queria te magoar, você parecia tão frágil, e dependia de mim para muitas coisas, tinha medo de você nunca conseguir enxergar que sua profissão não fosse te dar uma instabilidade financeira futura... e não poderia te deixar assim, sem uma perspectiva de vida.
- Mas, então... então faz muito tempo que você se sente assim em relação a mim?
- Não faz muito tempo... foi um pouco depois de falarmos em nos casar, lembra?
- Lembro, comentamos algo, mas depois você ficou meio com o pé atrás, dizendo que gostaria de trabalhar mais dois anos, e tudo.
- É, exatamente... naquele dia eu percebi, que não éramos mais um casal de namorados que estavam ansiosos pelo futuro, ali eu percebi que éramos amigos, mas também soube que levaria algum tempo para você se dar conta... pois você tem um costume de traçar metas esquisitas, e ainda que não esteja completamente feliz, não consegue admitir que esteja infeliz, e muito menos voltar atrás.
 - Sou realmente assim, não é?
- Ahãm...
- E eu te anulei em algum momento, Rick?
- Não, você não me anulou em momento algum.
- Então, por que você decidiu se abrir comigo hoje? Quero dizer... eu passaria a minha vida inteira sem notar que você não me ama mais, e iria esperar até o final que você me pedisse em casamento.
 - Corrigindo, Jussy, sem notar que não nos amamos mais.
- Que seja, Rick... eu passaria a vida toda assim, então se você temia antes que eu não pudesse me virar sozinha, hoje... eu posso muito menos, estou arrasada por descobrir que meu emprego, aquele que eu idolatrei por tanto tempo é na verdade uma merda, então se antes você não podia me deixar por temer o que aconteceria comigo, ainda que eu estivesse feliz e satisfeita, porque você decidiu fazer isso hoje que estou tão triste, e preciso muito mais de você?

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

XXXIII - Vazio


Fazia cerca de uns dez ou quinze dias que havia sido proporcionado o jantar que desgraçou a minha vida completamente, mas parecia que fazia uma eternidade.
 Apesar de ainda ter o Rick, eu não sei... não era mais a mesma coisa, eu me sentia completamente sozinha ainda que ele estivesse ao meu lado, e pra falar a verdade, eu me sentia assim ainda que eu estivesse numa passeata contra o uso de peles de animais para fazer casacos, e eu me sentiria da mesma forma em qualquer lugar que fosse, e para mim não existia realmente diferença se estava num espaço aberto sozinha, ou se ao meu lado estivessem um milhão de pessoas, a sensação de estar só era a mesma em qualquer ocasião.
 A verdade era que eu estava sentindo a falta do Persy, e agora era pra valer, estava sentindo muita mesmo, não só de olhar para ele, entendem? Sentia falta das nossas conversas, das tardes caminhando enquanto ele recolhia material para a sua coleção, falta de me sentir especial para alguém, como me sentia para ele, e sentia tanto que entrei numas de visitar os locais onde tinha estado com ele, como a esplanada das borboletas, por exemplo. Quando me sentei no mesmo banco que tinha me sentado naquele dia enquanto o esperava, fiquei sorrindo enquanto me lembrava do quanto eu tinha agido como uma idiota em relação a ele naquele dia em questão, o tratando como um menininho de cinco anos, e lembrei de sua risada graciosa ecoando por entre as árvores.
 Estive na praça, no mirante e também na prainha deserta que dava visão para toda a baia de Bridge, e fiquei por lá, assistindo ao pôr do sol que em outrora tinha sido tão excitante com o Persy ao meu lado, e que agora estava dotado de saudades e de um completo vazio por sua ausência em minha vida.

domingo, 19 de agosto de 2012

XXXII - A tendência é piorar


Sabem quando as pessoas te dizem:
“Tá mal? Relaxa, a tendência é só piorar!”
  Bom, eu comprovei que essa a frase é verídica em uma noite que eu preferiria ter perdido uma perna e ficado em casa em repouso, a ter ido trabalhar.
 Lá estava eu, no meu modelito de mixóloga, entediada com as conversas do balcão, imaginando se algum currículo meu teria sido respondido para que eu pudesse enfim começar a traçar novos rumos; Quando sem muita vontade escorreguei meus olhos para a pista em minha frente.
 Desejei que ácido puro tivesse caído de algum lugar, e feito com que eu ficasse cega ao ver o Persy, ali, na minha frente.
 Ele estava maravilhoso, e minha primeira reação foi sorrir para ele, até que demorou um pouco para ele me notar, mas quando aconteceu ele abriu aquele sorriso lindo, apesar da luz estar fraca, vi claramente seus lábios pronunciarem o meu nome, mas não consegui ouvi-lo por conta da música muito alta. E é claro que eu não teria desejado ser cega se eu estivesse apenas vendo o Persy, só que ao seu lado, de repente, surgiu Lola... ela me encarou por alguns míseros segundos, e em seguida puxou o Persy com um de seus tentáculos, com uma fúria tão grande que eu esperei de verdade que o braço dele se descolasse do corpo, como em câmera lenta eu vi todo o seu corpo reagir ao puxão, e seus olhos desviarem dos meus buscando em sua volta de onde surgira o golpe violento, ele ainda voltou a olhar para mim, entretanto, acabou seguindo por fim junto com a: Traidora, lambisgóia, desgraçada, vaca mãe de todas as vacas másteres, e fêmea mor de todas as fêmeas de Krakens devoradoras de homens inocentes, Lola.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

XXXI - Enfrentando a realidade




Nos dias que se seguiram, Ricardo me ligava sempre para fazermos algum programinha, ou para que eu passasse na casa dele, a fim de repetir a dose do jantar.
Evidentemente eu comecei a dar desculpas, ou então desconversar complemente, até que o Rick perdesse o foco do assunto, claro que não demorou muito para que ele percebesse que eu estava virando mestre em desculpas, então ele parou de insistir, e ao invés de eu ir até a casa dele, ele vinha até o meu apartamento.
Tive a prova definitiva de que Lola e Persy realmente transaram naquela noite, pois a Lola nunca mais me procurou, e Rick sempre me dizia que Lola e Persy viviam saindo juntos desde então, e assim como eu tinha deduzido, Rick estava se achando o máximo por ter promovido o encontro que fez com que os dois se acertassem, e ele dizia quase sempre:
- Bom, agora posso dormir tranquilo, sabendo que o moleque não vai ter um tumor no saco, mas por outro lado, estou temendo que ele perca o brinquedo, sabe como é? Se você visse a forma como Lola olha pra ele, Jussy, tá na cara que eles passam a madrugada toda no pega pra capar, e sinceramente eu não sei como o Lars ainda não pediu arrego.

"Obrigada, Rick... mas acho que eu poderia dormir muito melhor sem essa informação."

Eu estava usando as minhas tardes vazias e informes tal qual o deserto do... hãm Al Simhara, para mudar o rumo da minha vida, procurando um emprego que não fosse um hobby, entendem?
O Rick, apesar de ter ficado chocado com a possibilidade de ser uma marionete nas mãos dos grandões, naquele fatídico e infeliz dia, não se preocupou em querer mudar de vida, e no fim se explicou:
- Ah, quer saber?! Eles me pagam bem, que se dane!
Tudo bem Rick, sua marionete feliz.
Já eu não tinha essa desculpa para dar, então tinha que enfrentar além das apunhaladas que recebi do trio mitológico o meu total fracasso profissional do alto dos meus vinte e nove anos de idade, aquilo tudo estava sendo uma tortura.

domingo, 5 de agosto de 2012

XXX - Jogadas profissionais



Claro que o Rick estava eufórico com o evento, e assim que nos deitamos ele ficou tentando imaginar todo o roteiro da noite de Persy e Lola com um teor erótico de dar inveja ao Butmann; Felizmente Rick dormiu antes do Persy gozar no seu conto, a Lola já tinha tido orgasmos múltiplos umas cinco vezes.
   Estava odiando Lola infinitamente, e estava fazendo as contas de quantos anos eu deveria me manter afastada dela para não matá-la, traidora... safada!
   Eu ainda estava acordada quando ouvi muitas horas depois o carro estacionar, ouvi claramente os passos do Persy caminhando pela calçada, e então ouvi a porta ser destrancada e trancada novamente, ouvi o seu suspirar, parecia satisfeito... e isso acabou comigo, então ouvi uma música baixinha surgir, era música clássica ou algo do gênero, e então o ouvi falar no final:

“Vamos lá, Lars Persy, um passo de cada vez”.

  Dizer que as coisas estavam em perfeita ordem no outro dia, seria uma piada.
Por sorte, quando acordei Rick não estava do meu lado, e quando me levantei notei que Persy também não estava, então me vesti e sem nem ao menos passar pelo banheiro deixei a casa.
   De repente, eu não queria ver o Persy, não depois dele ter ido para a cama com Lola. Por mais que ele tenha dito para eu confiar nele, vamos combinar, ele ficou quase a madrugada toda fora, e fazendo o quê? Jogando fliperama? Por mais que eu quisesse acreditar que sim, bom, eu conhecia Lola o suficiente para saber que ela não toparia nenhum programa desse tipo, então eles não poderiam de forma alguma ter passado a madrugada jogando, a não ser que fossem jogos eróticos.
   E vamos combinar mais uma vez, Lola, a Kraken traidora jogou com tanta maestria com o Persy, que eu fiquei muitas vezes chocada com as suas jogadas; Sabia que ela estava mentindo, é claro que sim, conheço Lola há uns nove anos, mas, fico me perguntando... como ela sabia tanto a respeito do Persy? Era acerto atrás de acerto, ponto atrás de ponto, e vamos dizer que, ela citar o deserto de Al Simhara foi uma daquelas cestas de três pontos feitas do outro lado da quadra e com o jogador de costas, né? Quanta cagada!
   Depois daquele dia, decidi que eu não iria mais olhar na cara do Persy; Não, eu não estava sentindo raiva dele, por ter me dito que eu não tinha nada a temer porque ele era fiel aos seus princípios, só não queria vê-lo com a sua nova pele, despido de sua virtude, aquilo iria me arrasar profundamente. Agora a Lola eu não queria ver porque estava louca de ódio dela, e o Rick, bom, o Rick eu iria ter que conviver.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

XXIX - Sabotagem - Final


Rick e Persy estavam sentados no sofá da sala, conversando sobre qualquer coisa que eu sequer tenho uma pista para dar-lhes, pois estava viajando, imaginando qual seria o final daquela noite, quando a campainha da casa tocou me tirando do torpor.


Segui até porta com a missão suicida de receber Lola, e quando eu a abri, bom, eu sabia que pedir para Lola não vir vestida para matar não daria nada certo, pois eu quase não a reconheci:
- Lola? – Disse eu, olhando para o pedaço mínimo de pano que ela tinha escolhido para ser o seu figurino de noite.
- Jussy! – Reagiu ela, vindo em minha direção com os braços abertos, eu me odiei tanto por um dia ter insistido para que frequentássemos a academia. Eu desisti rapidamente, mas Lola, ainda era frequentadora assídua. - Que saudades, nunca mais te vi! 
- Você esqueceu alguma parte da sua roupa em casa, ou decidiu mesmo sair pela noite de top? – Ela riu de forma explicita, achando que eu estava bancando a piadista, mas eu estava realmente falando sério, não gostei nadinha da roupa dela.


Então seguimos para dentro do aposento, eu estava me sentindo um tapete velho ao lado de Lola, nem um batonzinho eu tinha me dado o trabalho de passar, enquanto ela estava usando a makeup dos sonhos.
 Acabei deixando as apresentações por conta do Rick, e como quem está assistindo um filme de terror eu me retirei no momento em que Persy e Lola seriam apresentados - para não ter pesadelos com a cena - Lola iria começar atacá-lo no momento em que colocasse os olhos nele, e eu já estava penalizada por ter que ver Persy enfrentar Lola: o Kraken, devoradora de homens inocentes.


Segundos depois, estava me preparando para voltar ao ambiente quando as apresentações fossem encerradas, ou seja, a parte dos beijos nas bochechas - e no caso de Lola - sabia que ela iria dar esses beijos bem na travezinha perfeita do Persy, mas tive que desistir quando ouvi Lola dizer:
 - O prazer é todo meu, amor.
 Eu juro que quase me enfiei na lava-louças, será que ela poderia ser só um pouco menos atirada? Preferia ouvir o Rick falando coisas sobre o saco do Persy por mais cinco horas a ouvir Lola chamá-lo de amor novamente.


Por fim, quando tudo parecia ter se acalmado, voltei para a sala  me arrastando literalmente, era hora de enfrentar: Lola a Kraken e Rick aspirante a Seth, junto com Semideus Lars Persy.


 Foi uma das noites mais demoradas da minha vida.
Muitas vezes eu me senti no limite de entrar em combustão de tanto tédio - Por estar ouvindo todo aquele papo furado de Lola - e ver o quanto Rick e Persy estavam dando atenção aquele monte de bobagens, em alguns momentos sentia-me tentada a dizer:
“Oras, Lola, por que você não desce dessa cruz do jornalismo samaritano e conte a eles que é você quem desmascara, entrega e arrasa com a vida dos famosos de Bridgeport? Não se esqueça também de falar que ganha muito dinheiro com isso, e diga que você nunca me contou, não quero que Persy saiba que estive me divertindo as custas da desgraça alheia"
Mas não falava nada, apenas sorria quando meu nome era citado em alguns raros momentos.


E de resto fiquei apenas como espectadora mesmo; Ah, sim... vou deixar com vocês algumas frases memoráveis de Lola:

“E esse pessoal da MarcuCorp, não é brincadeira... nós jornalistas sabemos, temo pelos envolvidos”

“Eu tenho muita informação guardada, entendem? Posso derrubar facilmente a pessoa que eu quiser nessa cidade, tenho poder pra isso... listem todos os famosos de Bridgeport, incluam os políticos e classe aristocrática, eu tenho todos em minhas mãos, e eu não os ferro, porque sou uma pessoa digna.” 

 Se eu não conhecesse, Lola, bateria palmas para ela.


- “Eu realmente gosto de viajar, adoro loucuras, sabem? Dessas de você pegar uma mochila, colocar nas costas e caminhar sem rumo? Meu lugar predileto no mundo? – Respondeu ela ao muito, muito interessado Persy - Hãm... Al Simhara, é lógico!”

Mentirosa!

 Essa eu quase gritei e bati na mesa pedindo truco, Lola odiava demais mochilão, ela preferiria perder todos os fios de cabelo, do que passar uma hora dentro de uma barraca, Lola detestava areia, ela odiava mesmo, seu lance com praia era somente os restaurantes sofisticados que acompanham a orla, e olha lá! Al Simhara, era o único lugar do mundo em que Lola fazia questão de nunca aparecer, ela tinha pavor de coisas velhas, tumbas, múmias, areia, sol quente, calor e barraca, ela mesma tinha me falado isso!
Óbvio que quando ela afirmou que o seu lugar predileto era o Deserto, os olhos de Persy quase vidraram nela, e vi um brilhozinho extra surgirem neles, e também vi um sorrisinho surgir nos seus lábios, e pude ver em câmera lenta o seu pescoço ficar ereto novamente após absorver a informação, e eu quis realmente acreditar que em todo o seu corpo, apenas o seu pescoço tinha tomado tal postura.


No final de tudo aquilo eu estava exausta, e estava mesmo... se pudesse começaria a tacar minha cabeça na mesa, como sinal de sofrimento e suplica para que pudéssemos acabar com tudo aquilo e voltar a vida normal. Finalmente Lola tomou o seu semancol diário e resolveu despedir-se:
- Bom, está muito tarde... e não quero atrapalhar mais, vejam a Jussy está com os olhos pequenininhos de sono, judiação.

Prendi minha língua nos dentes para não mandá-la à merda.


Lola sequer se despediu do Rick, e foi logo atacando o Persy, toda sorrisos, simpatia e sex appeal:
- Boa noite, Lars Persy – Pude jurar que ela fez cara de mulher fatal para ele, e a voz que ela usou para dizer o seu nome foi tão sensual que esperei as janelas trincarem.


Todo mundo sabe o quanto o Persy é gentil e inocente, não é? Então é claro que todos nós sabemos aonde esse diálogo vai acabar:
- Boa noite, Lola, foi um prazer muito grande te conhecer.
- Obrigada, amor, o prazer foi todo meu, pode apostar – a cara fatal novamente, então eu não fantasiei.
- Hãm, Lola, sem querer ser indiscreto, mas, já sendo... Notei que você veio de táxi - uma aspas aqui, conhecendo a Lola como conheço, posso apostar que ela veio de táxi propositalmente - Então acho que seria falta de cavalheirismo a minha se não te oferecesse uma carona.

Eu o encarei e lancei-lhe um olhar de suplica, tentando fazer com que ele lembrasse de tudo o que conversamos horas atrás, ele me ignorou, olhei então para Lola e lancei-lhe o mesmo olhar, com a esperança de que ela se lembrasse que o tesouro precioso tinha sido encontrado por mim, bem se Persy me ignorou, imagina Lola.


Por fim, lembrei-me que o Persy não tinha carro, e então provavelmente ele pegaria o do Rick emprestado, foi a vez então do Rick receber o meu olhar, mas ele não estava me olhando, porque estava ocupado demais prestes a dar assistência ao Persy.
E evidentemente, o Persy nem precisou pedir as chaves emprestadas, Rick Seth foi logo dizendo:
- Vai fundo, Lars! - Puxando o Persy em sua direção, a fim de dar-lhe um conselho – Meu garoto! E não se esqueça das camisinhas!!!

Filho da mãe! Traidor!


E lá se foram eles, o Kraken e o Semideus lado a lado, divertidos e descontraídos, contrariando tudo o que a mitologia me ensinara até então.
 Era o fim da virtude do Persy, era o fim da sua inocência que seria tomada de mim a qualquer instante, assim que o carro desse a partida.

terça-feira, 26 de junho de 2012

XXVIII - Sabotagem II


O fato é que, o Rick continuou insistindo muito no assunto - não no assunto sobre o saco do Persy, graças a Deus - Estou me referindo ao assunto da Lola, e o meu celular resolveu se juntar as forças inimigas começando a tocar insistentemente, toda vez que eu o sentia vibrar tinha uma pequena arritmia, e sabem quando você sente que o círculo está fechando em sua volta?

Eu estava exatamente nessa situação.


Felizmente em um momento em que eu já estava prestes a sair correndo, Rick resolveu se ausentar por alguns instantes, e assim que ele sumiu do meu campo de visão soltei o ar tenso dos pulmões, no mesmo instante em que Persy me lançou um sorriso encantador, me questionando em seguida:
- Quem é Lola? – O sorriso encantador continuava lá, só que eu tive minhas duvidas, poderia então ser um sorriso irônico?
- Alguém que você deve ficar bem longe, pode apostar.
- E por que eu deveria ficar longe? – Ele fez aquele gesto do pescoço mostrando que iria absorver a informação.
- Porque ela é uma devoradora de homens, Persy. – Usei uma voz sombria e dei uma ênfase no devoradora, a fim de que ele absorvesse a informação honrando o seu nome, que também homenageava Perseus. - Tipo um kraken, entende? - Expliquei melhor, para ele ter a idéia real do perigo.


- Devoradora de homens, é? – Questionou ele, com um ar estranhamente malandro.
- Tira esse sorrisinho da cara, Lars Persy... e para de me provocar, estou falando sério.
- Que mal tem eu conhecer a sua amiga? – Insistiu ele, o sorriso era agora inocente... ou eu estava enganada sobre suas caras e bocas?
- Que mal tem? Bom, ela está louquinha pra tirar o seu couro.
- É sério? – Agora ele demonstrava mais interesse, eu quis dar umas boas palmadas no bumbum dele.
- É sério, sim. – Admiti, cheia de pesar.


- Escuta... Justine, você sabe que o Rick vai insistir até, não sabe? – Ele voltou a ficar sério, e eu me senti aliviada.
 - Claro que sei, ele e a Lola...e isso é terrível.
 - E você me conhece muito bem, não conhece?
- Conheço alguma coisa, mas conheço a Lola muito mais.
- Eu tive todas as oportunidades do mundo, Juss... todas, e você nem queira saber os apuros pelos quais já passei.
 Ah, isso eu não queria saber mesmo, só de imaginar uma mulher chegando perto dele, já me dava palpitações:
– E fui paciente e até persistente em esperar por alguém que me fizesse sentir especial...
 Own, eu olhei para ele com os olhos marejados, ele era a coisa mais, mais fofa que eu já tinha tido o privilégio de conviver:
 - Então você sabe, que sou fiel aos meus princípios, e as minhas escolhas.



- Então, você acha que eu devo promover o jantar da minha desgraça? – Persy riu da minha maneira dramática, e então comentou:
- Não vai acontecer absolutamente nada, Justine, nem se a Lola tentar me agarrar... você sabe que eu a rejeitaria.
Só por um instante tentei imaginar quão forte poderia ser Lola, quando ela estivesse a sós com o Persy, espero que ela não quebre os frágeis ossinhos de suas costelas, ou terei de matá-la:
- Você faria isso, Persy?
- Pode apostar que sim. – Garantiu-me ele, com aquele sorrisinho angelical.


E então, quando o Rick voltou do seu recesso eu comuniquei:
- Bom, Rick, vou ligar para a Lola, e saber se ela está livre.
 Eu sabia que ela estaria livre, e sabia também que mesmo que ela não estivesse, desmarcaria qualquer compromisso só para conhecer o Persy, e só de pensar que ela faria isso por ele me sentia nauseada, pois na minha concepção, Lola deixar algum compromisso de lado, apenas para conhecer o Persy, era tal qual atravessar um oceano a nado para mostrar-se merecedora de sua castidade:
 - Vou, ali fora... pois vou dar uns toques a ela, entende? Falar sobre o... Persy.
- Ah, claro! Então vamos ter um jantarzinho... que tesão!


E a contra gosto, eu fui ligar para a Lola.
 Antes de pegar o meu celular, eu olhei para a parede de vidro que separava a sala do quintal, e pude ver o Rick conversando com o Persy, e notei que Ricardo estava fazendo alguns gestos obscenos para ele freneticamente; Pude sentir a angustia do meu menininho inocente a distância, Deus sabe o que Rick estaria fazendo-o passar, suspirei profundamente e finalmente completei a ligação.


Como era de se esperar, Lola aceitou o convite sem nem ao menos hesitar, e só para evitar que ela se vestisse como se estivesse indo a cerimônia do Oscar - Como era costume Lola fazer quando estava afim de um cara - eu a adverti:
- Lola, é um jantarzinho à toa, não precisa exagerar na produção.
- Jantarzinho à toa, com o cobiçado do momento? Fala sério, Justine!
 - Cobiçado do momento? O Persy?
- Justine, não se faça! Até parece que você não se liga nessas coisas...

Eu havia me esquecido que tinha dado com a língua nos dentes sobre a virgindade de Persy, fiquei realmente decepcionada comigo por ter revelado algo tão íntimo sobre ele para a Lola, e nossa, ela realmente estava muito empolgada sobre a virgindade dele, e eu com muita raiva por ela querer roubar o tesouro que eu tinha encontrado.