quarta-feira, 4 de julho de 2012
XXIX - Sabotagem - Final
Rick e Persy estavam sentados no sofá da sala, conversando sobre qualquer coisa que eu sequer tenho uma pista para dar-lhes, pois estava viajando, imaginando qual seria o final daquela noite, quando a campainha da casa tocou me tirando do torpor.
Segui até porta com a missão suicida de receber Lola, e quando eu a abri, bom, eu sabia que pedir para Lola não vir vestida para matar não daria nada certo, pois eu quase não a reconheci:
- Lola? – Disse eu, olhando para o pedaço mínimo de pano que ela tinha escolhido para ser o seu figurino de noite.
- Jussy! – Reagiu ela, vindo em minha direção com os braços abertos, eu me odiei tanto por um dia ter insistido para que frequentássemos a academia. Eu desisti rapidamente, mas Lola, ainda era frequentadora assídua. - Que saudades, nunca mais te vi!
- Você esqueceu alguma parte da sua roupa em casa, ou decidiu mesmo sair pela noite de top? – Ela riu de forma explicita, achando que eu estava bancando a piadista, mas eu estava realmente falando sério, não gostei nadinha da roupa dela.
Então seguimos para dentro do aposento, eu estava me sentindo um tapete velho ao lado de Lola, nem um batonzinho eu tinha me dado o trabalho de passar, enquanto ela estava usando a makeup dos sonhos.
Acabei deixando as apresentações por conta do Rick, e como quem está assistindo um filme de terror eu me retirei no momento em que Persy e Lola seriam apresentados - para não ter pesadelos com a cena - Lola iria começar atacá-lo no momento em que colocasse os olhos nele, e eu já estava penalizada por ter que ver Persy enfrentar Lola: o Kraken, devoradora de homens inocentes.
Segundos depois, estava me preparando para voltar ao ambiente quando as apresentações fossem encerradas, ou seja, a parte dos beijos nas bochechas - e no caso de Lola - sabia que ela iria dar esses beijos bem na travezinha perfeita do Persy, mas tive que desistir quando ouvi Lola dizer:
- O prazer é todo meu, amor.
Eu juro que quase me enfiei na lava-louças, será que ela poderia ser só um pouco menos atirada? Preferia ouvir o Rick falando coisas sobre o saco do Persy por mais cinco horas a ouvir Lola chamá-lo de amor novamente.
Por fim, quando tudo parecia ter se acalmado, voltei para a sala me arrastando literalmente, era hora de enfrentar: Lola a Kraken e Rick aspirante a Seth, junto com Semideus Lars Persy.
Foi uma das noites mais demoradas da minha vida.
Muitas vezes eu me senti no limite de entrar em combustão de tanto tédio - Por estar ouvindo todo aquele papo furado de Lola - e ver o quanto Rick e Persy estavam dando atenção aquele monte de bobagens, em alguns momentos sentia-me tentada a dizer:
“Oras, Lola, por que você não desce dessa cruz do jornalismo samaritano e conte a eles que é você quem desmascara, entrega e arrasa com a vida dos famosos de Bridgeport? Não se esqueça também de falar que ganha muito dinheiro com isso, e diga que você nunca me contou, não quero que Persy saiba que estive me divertindo as custas da desgraça alheia"
Mas não falava nada, apenas sorria quando meu nome era citado em alguns raros momentos.
E de resto fiquei apenas como espectadora mesmo; Ah, sim... vou deixar com vocês algumas frases memoráveis de Lola:
“E esse pessoal da MarcuCorp, não é brincadeira... nós jornalistas sabemos, temo pelos envolvidos”
“Eu tenho muita informação guardada, entendem? Posso derrubar facilmente a pessoa que eu quiser nessa cidade, tenho poder pra isso... listem todos os famosos de Bridgeport, incluam os políticos e classe aristocrática, eu tenho todos em minhas mãos, e eu não os ferro, porque sou uma pessoa digna.”
Se eu não conhecesse, Lola, bateria palmas para ela.
- “Eu realmente gosto de viajar, adoro loucuras, sabem? Dessas de você pegar uma mochila, colocar nas costas e caminhar sem rumo? Meu lugar predileto no mundo? – Respondeu ela ao muito, muito interessado Persy - Hãm... Al Simhara, é lógico!”
Mentirosa!
Essa eu quase gritei e bati na mesa pedindo truco, Lola odiava demais mochilão, ela preferiria perder todos os fios de cabelo, do que passar uma hora dentro de uma barraca, Lola detestava areia, ela odiava mesmo, seu lance com praia era somente os restaurantes sofisticados que acompanham a orla, e olha lá! Al Simhara, era o único lugar do mundo em que Lola fazia questão de nunca aparecer, ela tinha pavor de coisas velhas, tumbas, múmias, areia, sol quente, calor e barraca, ela mesma tinha me falado isso!
Óbvio que quando ela afirmou que o seu lugar predileto era o Deserto, os olhos de Persy quase vidraram nela, e vi um brilhozinho extra surgirem neles, e também vi um sorrisinho surgir nos seus lábios, e pude ver em câmera lenta o seu pescoço ficar ereto novamente após absorver a informação, e eu quis realmente acreditar que em todo o seu corpo, apenas o seu pescoço tinha tomado tal postura.
No final de tudo aquilo eu estava exausta, e estava mesmo... se pudesse começaria a tacar minha cabeça na mesa, como sinal de sofrimento e suplica para que pudéssemos acabar com tudo aquilo e voltar a vida normal. Finalmente Lola tomou o seu semancol diário e resolveu despedir-se:
- Bom, está muito tarde... e não quero atrapalhar mais, vejam a Jussy está com os olhos pequenininhos de sono, judiação.
Prendi minha língua nos dentes para não mandá-la à merda.
Lola sequer se despediu do Rick, e foi logo atacando o Persy, toda sorrisos, simpatia e sex appeal:
- Boa noite, Lars Persy – Pude jurar que ela fez cara de mulher fatal para ele, e a voz que ela usou para dizer o seu nome foi tão sensual que esperei as janelas trincarem.
Todo mundo sabe o quanto o Persy é gentil e inocente, não é? Então é claro que todos nós sabemos aonde esse diálogo vai acabar:
- Boa noite, Lola, foi um prazer muito grande te conhecer.
- Obrigada, amor, o prazer foi todo meu, pode apostar – a cara fatal novamente, então eu não fantasiei.
- Hãm, Lola, sem querer ser indiscreto, mas, já sendo... Notei que você veio de táxi - uma aspas aqui, conhecendo a Lola como conheço, posso apostar que ela veio de táxi propositalmente - Então acho que seria falta de cavalheirismo a minha se não te oferecesse uma carona.
Eu o encarei e lancei-lhe um olhar de suplica, tentando fazer com que ele lembrasse de tudo o que conversamos horas atrás, ele me ignorou, olhei então para Lola e lancei-lhe o mesmo olhar, com a esperança de que ela se lembrasse que o tesouro precioso tinha sido encontrado por mim, bem se Persy me ignorou, imagina Lola.
Por fim, lembrei-me que o Persy não tinha carro, e então provavelmente ele pegaria o do Rick emprestado, foi a vez então do Rick receber o meu olhar, mas ele não estava me olhando, porque estava ocupado demais prestes a dar assistência ao Persy.
E evidentemente, o Persy nem precisou pedir as chaves emprestadas, Rick Seth foi logo dizendo:
- Vai fundo, Lars! - Puxando o Persy em sua direção, a fim de dar-lhe um conselho – Meu garoto! E não se esqueça das camisinhas!!!
Filho da mãe! Traidor!
E lá se foram eles, o Kraken e o Semideus lado a lado, divertidos e descontraídos, contrariando tudo o que a mitologia me ensinara até então.
Era o fim da virtude do Persy, era o fim da sua inocência que seria tomada de mim a qualquer instante, assim que o carro desse a partida.
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