terça-feira, 26 de junho de 2012

XXVIII - Sabotagem II


O fato é que, o Rick continuou insistindo muito no assunto - não no assunto sobre o saco do Persy, graças a Deus - Estou me referindo ao assunto da Lola, e o meu celular resolveu se juntar as forças inimigas começando a tocar insistentemente, toda vez que eu o sentia vibrar tinha uma pequena arritmia, e sabem quando você sente que o círculo está fechando em sua volta?

Eu estava exatamente nessa situação.


Felizmente em um momento em que eu já estava prestes a sair correndo, Rick resolveu se ausentar por alguns instantes, e assim que ele sumiu do meu campo de visão soltei o ar tenso dos pulmões, no mesmo instante em que Persy me lançou um sorriso encantador, me questionando em seguida:
- Quem é Lola? – O sorriso encantador continuava lá, só que eu tive minhas duvidas, poderia então ser um sorriso irônico?
- Alguém que você deve ficar bem longe, pode apostar.
- E por que eu deveria ficar longe? – Ele fez aquele gesto do pescoço mostrando que iria absorver a informação.
- Porque ela é uma devoradora de homens, Persy. – Usei uma voz sombria e dei uma ênfase no devoradora, a fim de que ele absorvesse a informação honrando o seu nome, que também homenageava Perseus. - Tipo um kraken, entende? - Expliquei melhor, para ele ter a idéia real do perigo.


- Devoradora de homens, é? – Questionou ele, com um ar estranhamente malandro.
- Tira esse sorrisinho da cara, Lars Persy... e para de me provocar, estou falando sério.
- Que mal tem eu conhecer a sua amiga? – Insistiu ele, o sorriso era agora inocente... ou eu estava enganada sobre suas caras e bocas?
- Que mal tem? Bom, ela está louquinha pra tirar o seu couro.
- É sério? – Agora ele demonstrava mais interesse, eu quis dar umas boas palmadas no bumbum dele.
- É sério, sim. – Admiti, cheia de pesar.


- Escuta... Justine, você sabe que o Rick vai insistir até, não sabe? – Ele voltou a ficar sério, e eu me senti aliviada.
 - Claro que sei, ele e a Lola...e isso é terrível.
 - E você me conhece muito bem, não conhece?
- Conheço alguma coisa, mas conheço a Lola muito mais.
- Eu tive todas as oportunidades do mundo, Juss... todas, e você nem queira saber os apuros pelos quais já passei.
 Ah, isso eu não queria saber mesmo, só de imaginar uma mulher chegando perto dele, já me dava palpitações:
– E fui paciente e até persistente em esperar por alguém que me fizesse sentir especial...
 Own, eu olhei para ele com os olhos marejados, ele era a coisa mais, mais fofa que eu já tinha tido o privilégio de conviver:
 - Então você sabe, que sou fiel aos meus princípios, e as minhas escolhas.



- Então, você acha que eu devo promover o jantar da minha desgraça? – Persy riu da minha maneira dramática, e então comentou:
- Não vai acontecer absolutamente nada, Justine, nem se a Lola tentar me agarrar... você sabe que eu a rejeitaria.
Só por um instante tentei imaginar quão forte poderia ser Lola, quando ela estivesse a sós com o Persy, espero que ela não quebre os frágeis ossinhos de suas costelas, ou terei de matá-la:
- Você faria isso, Persy?
- Pode apostar que sim. – Garantiu-me ele, com aquele sorrisinho angelical.


E então, quando o Rick voltou do seu recesso eu comuniquei:
- Bom, Rick, vou ligar para a Lola, e saber se ela está livre.
 Eu sabia que ela estaria livre, e sabia também que mesmo que ela não estivesse, desmarcaria qualquer compromisso só para conhecer o Persy, e só de pensar que ela faria isso por ele me sentia nauseada, pois na minha concepção, Lola deixar algum compromisso de lado, apenas para conhecer o Persy, era tal qual atravessar um oceano a nado para mostrar-se merecedora de sua castidade:
 - Vou, ali fora... pois vou dar uns toques a ela, entende? Falar sobre o... Persy.
- Ah, claro! Então vamos ter um jantarzinho... que tesão!


E a contra gosto, eu fui ligar para a Lola.
 Antes de pegar o meu celular, eu olhei para a parede de vidro que separava a sala do quintal, e pude ver o Rick conversando com o Persy, e notei que Ricardo estava fazendo alguns gestos obscenos para ele freneticamente; Pude sentir a angustia do meu menininho inocente a distância, Deus sabe o que Rick estaria fazendo-o passar, suspirei profundamente e finalmente completei a ligação.


Como era de se esperar, Lola aceitou o convite sem nem ao menos hesitar, e só para evitar que ela se vestisse como se estivesse indo a cerimônia do Oscar - Como era costume Lola fazer quando estava afim de um cara - eu a adverti:
- Lola, é um jantarzinho à toa, não precisa exagerar na produção.
- Jantarzinho à toa, com o cobiçado do momento? Fala sério, Justine!
 - Cobiçado do momento? O Persy?
- Justine, não se faça! Até parece que você não se liga nessas coisas...

Eu havia me esquecido que tinha dado com a língua nos dentes sobre a virgindade de Persy, fiquei realmente decepcionada comigo por ter revelado algo tão íntimo sobre ele para a Lola, e nossa, ela realmente estava muito empolgada sobre a virgindade dele, e eu com muita raiva por ela querer roubar o tesouro que eu tinha encontrado.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

XXVII - Sabotagem



Estávamos eu e Rick arrasados quando o Lindíssimo Semideus intocado: Persy, fechou a porta em suas costas, com um sorriso satisfeito nos lábios, não sei dizer o motivo, mas tenho algumas sugestões: 
I – Ele estava feliz em me ver. 
II- Ele estava feliz por encontrar eu e Rick arrasados. 
III- Ele estava feliz por chegar em casa, e nos encontrar na sala arrasados, sendo que o natural de um casal que está há um mês sem se ver seria estar no quarto, balançando a cama. 
IV – Ele tinha alguma boa notícia em relação ao seu material. 
V – Todas as alternativas anteriores. 
VI – Nenhuma das alternativas anteriores. 
 - Oi gente! – Ele nos cumprimentou após um breve período de observação, e não é engraçado como até um cumprimento rotineiro, vindo de Persy torna-se gracioso e angelical? – Quais são as boas?



Rick foi o primeiro a desabafar:
- Acabo de descobrir que sou uma marionete.
Eu disse em sequência, gostando muito da linha de raciocínio do Ricardo:
- E eu acabo de descobrir que meu emprego na verdade deveria ser um hobby!
 Persy pendeu o pescoço levemente, ato que ele sempre fazia quando absorvia uma informação:
- Ah, isso é ruim. – Observou.

 

- Isso é péssimo. – Rebateu Rick, amuado.
 Eu não falei nada, por incrível que pareça.
- Quando descobrimos que o nosso lado profissional, está uma merda... sentimos uma frustração terrível, não é? - Perguntou Persy, juntando-se a nós.

 

Eu ia concordar, mas Rick tinha uma observação a fazer:
- Huum, então vocês passaram realmente algum tempo juntos...
Eu e Persy quase vomitamos de nervoso, pra falar a verdade eu quase vomitei, Persy parecia calmo quando indagou Rick:
- Por que está dizendo isso? – Rick respondeu quase que instantaneamente:
- Porque a Justine, está dizendo verdades doa a quem doer, e você, de repente, falar a palavra "merda", bom... isso não é natural de vocês.
- Ah – Persy sorriu – Nós passamos sim um tempo considerável juntos, Justine foi uma boa anfitriã.
- Que bom, fico realmente feliz que vocês não tenham se matado. - Finalizou Rick, com ar desconfiado.

 

Eu fiquei bem constrangida, mas consegui sorrir amigavelmente, e Persy, parecia um anjo no seu altarzinho, com o seu sorrisinho infantil; Certamente nem o aparelho detector de mentiras poderia denunciá-lo naquele instante, até eu que era cúmplice de nosso plano sacana, de repente me peguei pensando:
 “Será que sonhei com tudo aquilo? Veja o Persy, essa criança inocente não poderia fazer mal a uma mosca, quem dirá tentar passar a perna no primo afim de tirar um filé da namorada dele”

 

E tudo caminhava para a perfeição quando Rick - o filho da mãe - quis jogar com as nossas vidas, fazendo com que eu o odiasse mortalmente:
- E ai, Lars? A Jussy, não te levou pra dar uns roles na noite de Bridgeport?
 - Não, nós não saímos para passear de noite.
E ele nem ficou vermelho, que orgulho do meu menininho!

 

- Então, você está todo esse tempo sem... - O Rick fez um gesto horrível com a mão, aquele de afogar o ganso, sabem? E eu tive vontade de cortar a mão dele fora; Aquilo era quase um atentado ao pudor! O pior foi que ele não parou no gesto, pelo rosto pálido do Persy, Rick logo soube que ele não tinha chegado nem perto de praticar o ato, e então ele tinha mais coisas a dizer: 
- Não pode acumular não, meu camaradinha! Tem que se aliviar... pode dar um tumor no seu saco, você sabe, né? Isso foi comprovado cientificamente...

Deus! Eu estava suando bicas de vergonha, e o Persy... tenho certeza que suas mãozinhas estavam geladas e seu coraçãozinho disparado:
- Rick, para com isso... está deixando o Persy sem graça. – Tentei cortar o assunto, afim de preservar o Persy.

 

- Sem graça por quê?! – Indagou Rick, elevando a voz a muitos decibéis – Vergonha é não comer uma bela...
 - AAAHHHH – tive que berrar, ou o Persy teria um ataque cardíaco.
 - O que quê é isso? – Indagou Rick, no ato.
- Pelo amor de Deus, Rick, você pode filtrar o seu vocabulário?
- Ô Justine, aqui é papo de cuecas, estamos familiarizados com isso.
 - Mas eu estou aqui, e definitivamente não quero ouvir palavras desse tipo.
 Não que eu me importasse, estava preocupada apenas com o Persy.

 

- Que seja... então você não conseguiu se divertir, Lars? 
- Eu estive muito ocupado, Rick, infelizmente não tive tempo para diversão. 
- Tsc, papo furado, sempre temos tempo pra umazinha – Disse Rick, agora um pouco mais contido. 
- Mas leva-se um certo tempo até se ter intimidade com alguém, e... como não conheço ninguém em Bridgeport.




Então, houve um pequeno silêncio, e então Rick mais uma vez abriu a boca para falar... hãm, merda:
- Ô, Jussy... sabe quem combinaria perfeitamente com o Lars?
Senti uma forte dor no estômago - uma dor insuportável - pois sabia muito bem de quem Rick estava falando, mas dei de louca, quem sabe ele mudaria de idéia:
- Não, quem?
- A Lola... ela e o Lars iam se dar muito bem, Vejam L e L, já combinam nas iniciais do nome!
 - A Lola não chama Lola, Rick, ela chama Dolores.
- Está brincando? – Reagiu Rick, de queixo caído.
 - Não, não estou.
- Poxa, nunca poderia imaginar, ela tem cara de Lola.
 - É, realmente ela tem.

 

- Enfim, mas eles combinam bastante. – Disse Rick pra mim, e depois dirigiu-se ao Persy – Ela é uma mulher bonita, Lars... e muito interessante, é jornalista, viaja bastante, assim como você...

 Rick balançava a cabeça concordando com o que ele mesmo dizia, tipo como quem fala:
“É, os dois dariam um belo casal, que grande descoberta a minha!”
E intimamente posso até imaginar que ele estava esperando que alguém lhe entregasse o prêmio de cupido do ano.
 – O que vocês acham de convidar a Lola para o jantar? Quem sabe apresentando os dois, o Lars não tira o atraso ainda hoje!

 

Em seguida, perguntou ao Persy de forma preocupada:
 – Ainda não tá doendo?
 Persy sacudiu a cabeça, negativamente.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

XXVI - Sinceridade doa a quem doer


Certo, lá estava o Rick mais uma vez me ofendendo pra valer; Eu não sou uma pessoa fútil, não sou mesmo, vejam... eu tinha um trabalho digno, podia até não ter me formado no melhor curso da faculdade... mas, tinha sim no meu currículo a faculdade de gastronomia, - coisa que vocês não sabiam - e muitos cursos de mixólogia; E não era porque trabalhava a noite que eu era uma alienada.
Podia até não entender bulhufas sobre hieróglifo, ou não saber o que significava “A ordem dórica”, kouroi e korai para mim eram nomes sujestivos para um casalzinho de gatos, e Mineres dolmens e cromlechs... bom, estava quase certa de que eram nomes de elfos.
Entretanto, isso não significava que eu era uma porta, uma anta, uma ameba! Tinha alguma cultura, - não que eu consiga listar nesse momento - mas, saber coisas desse tipo era para pessoas especializadas, imagino.


Voltemos então ao Rick, e seu suposto ódio por minha profissão:
- Rick, eu não quero brigar com você... não quero mesmo.
- Relaxa, também não estou nada a fim de debater coquetéis estilosos, quando estou com a cabeça cheia de negócios que realmente podem mudar as coisas em Bridgeport.
 - Você dá tanta importância para isso, não é? Se acha o máximo por trabalhar naquela torre espelhada, no seu escritório com visão previlegiada.
- Justine, tenho certeza que pelo menos noventa e oito por cento da população de Bridgeport, gostaria de estar sentada na cadeira que é minha.


- Mas, veja que interessante, você não é o dono... pode ser o gerente geral, mas... aquela torre não é sua, você não manda no seu nariz! Você tem horários, e tem que aguentar aquele monte de gente chata puxando o seu saco todos os dias, você tem que sair pra almoçar com clientes que você não suporta e ainda tem que ir para onde te mandam, então pra mim... isso tudo é uma grande merda, e se você quer saber, Ricardo Inglesson... eu faço parte dos dois por cento que fariam questão de não estarem sentadas na sua cadeira!


Achei que após ter dito umas boas verdades na cara dele, ele iria me botar pra correr, é claro que eu já tinha até colocado os meus olhos na porta, quando Rick respondeu num tom desconfiado:
- Vejo que você e o Lars passaram realmente algum tempo juntos.
- Não entendi.
- Toda essa sinceridade repentina doa a quem doer, “falarei o que penso, e que venham as consequências”. Isso é muito, muito Lars.
 - Que se dane, Ricardo... – Respondi escorregadia, não podia acreditar que tinha entregado os pontos, assim por uma coisa que eu não poderia esperar, fui pega de surpresa, literalmente com as calças arriadas, ou quase lá.


- Você acha isso mesmo? – Rick quis saber, um pouco preocupado, eu o encarei sem captar o conteúdo da questão - Sobre o meu trabalho.
Eu respirei exausta, e respondi:
- Acho.
Então, Rick quis se aprofundar:
- Acha que sou uma marionete na mão dos grandões?
- Não foi isso que disse, absolutamente.
- Mas, me fez refletir... que...
 - Que o quê?
- Ah, Justine... são coisas que você não pode entender.
- Você me acha mesmo uma porta né, Rick?
- Não, não acho... o que eu acho é que você está perdendo tempo com essa história de mixóloga, sabe? Você tem vinte e nove anos, Jussy, tem um diploma em mãos e poderia ter um emprego que te desse mais garantias; Eu sei, que seu emprego é um emprego digno e você se mata de trabalhar pra pagar as suas contas, blábláblá e blábláblá mas no fim... é só isso, o aluguel do apartamento, água, luz, telefone... e o resto? Um veículo, uma viagem mais elaborada... você não pode pagar, pois você trabalha exatamente para pagar só as suas contas, sem se importar com o amanhã.



Parece que aquele era o dia das verdades, pensei em dar um contra golpe no Rick falando sobre a minha rechada poupança... mas ela não existia, quero dizer, ela estava lá no banco desde que eu comecei a trabalhar, mas nunca viu um único centavo do meu dinheiro... estava às moscas há quase dez anos:

- Você acha isso mesmo? – Indaguei, um pouco desnorteada.
- Eu acho... sinceramente.
- Mas, eu gosto tanto de trabalhar como mixóloga... – fiz cara de cachorro abandonado.
- Eu sei que gosta... – disse ele, em tom carinhoso - mas isso é um emprego para garotas, Jussy, e você já não é mais uma garota... é uma mulher de quase trinta anos.
- Uma tiazinha...
- Não, uma mulher apenas.


De repente eu estava arrasada, de repente... meu emprego, aquele que eu gostava muito parecia apenas uma brincadeirinha tola, onde eu recebia uns trocos para me manter e era só, talvez o meu emprego pudesse se tornar um hobby, mas eu não sabia ser muito mais do que mixóloga, apesar do diploma de gastronomia... eu não gostava muito de pilotar um fogão, e também não sabia cozinhar coisas como: “boeuf à bourguignonne acompanhados de batatas dauphinoise” se fosse procurar um emprego, talvez eu o conseguisse como assistente de cozinha do Gordurimensa, para fritar hambúrgueres e batatas fritas, ou seja... isso pode ser comparado ao nível um do “boeuf à bourguignonne acompanhados de batatas dauphinoise” que evidentemente é o nível dez.