terça-feira, 10 de abril de 2012

XVIII - Infortúnios da virtude II


Mais uma vez, tive a sensação de entrar na zona de perigo, e bom, eu comecei a ficar muito nervosa com tudo aquilo, não que eu não desejasse mais que o Persy me beijasse, e me levasse para conhecer o Monte Olímpo. Só que, as coisas tornaram-se muito mais complicadas... Se ele não fosse virgem, por exemplo, e não tivesse me contado o quanto tentou, mas não conseguiu chegar aos finalmentes, pois acredita no amor verdadeiro, seria mais fácil e natural.


Quero dizer, é óbvio que se existisse uma fila de pretendentes para desonrar a virtude do Persy, eu estaria em primeiro lugar dessa fila, e estaria dormindo na barraca por meses e meses só pra garantir o meu lugar. Por outro lado - e de uma maneira sádica - eu comecei a achar que o Persy merecia alguém que possuísse uma alma tão pura quanto a dele, não que ele fosse um débil mental; não, ele não é... mas entendem o que eu quero dizer?


Nunca uma mortal tinha ultrapassado o limite de seu cinto, nunca uma mortal tinha visto muito além de sua barriga, eu ainda não tinha tido este privilégio, mas poderia dizer com alguma certeza - graças as recentes lembranças - que parecia ser, hãm... uma delícia.
Ao mesmo tempo todas aquelas informações e hipóteses, estavam me deixando com muita vontade de ser eu a pessoa que revelaria ao Persy todo o lado pervertido da vida, de uma forma amorosa é claro... talvez pétalas de rosas fizessem alguma diferença na hora do "pega pra capar", não que eu ache que vou conseguir me controlar quando ele estiver lá com a sua ereção que existe (e ele afirmou isso com palavras e de forma séria, é sempre bom lembrar) se ele acha que vou poupá-lo de alguma coisa por ele ser virgem, ah! Não vou não.


E como se é de imaginar, dentro dessa zona de perigo, pode acontecer muitas coisas, e o Persy estava muito disposto a explorar essa zona, pelo que pude observar:
- Sabe, Justine, você passa uma imagem que sinceramente me intriga... é como uma imagem falsa a seu respeito. – Disse ele, em tom explicativo.
- Como assim?
- Como explicar sem ser grosseiro?


- Pode falar... esta tudo bem. – Dei passe livre a ele, por saber que ele nunca conseguiria ser grosseiro, nem que tentasse.
- Da primeira vez que te vi, te achei tão... huuum, sensual, como se tivesse... eu não sei, talvez... eu não devesse falar sobre isso, você namora o meu primo... e o que eu estou fazendo? - Enquanto ele ia falando sua voz foi se tornando mais e mais baixa.
- Tudo bem, Persy, pode falar, fica entre nós.


E é claro que ficaria, ou ele achava realmente que eu iria elaborar uma reunião extraordinária para contar ao Rick sobre nós? Onde a pauta seria:
 “Porque você não deve se ausentar quando o seu primo Semideus está passando uma temporada na sua casa.”
Os tópicos a serem discutidos viriam em seguida:
I – Porque sua namorada pode ficar afim dele.
II – Porque sua namorada e seu primo Semideus podem ter muitas afinidades.
III – Afinidades descobertas, entrando na zona de perigo.
IV – Introdução a zona de perigo, atração física e psíquica podem gerar traição?

 E por ai vai... mas, vamos voltar ao Persy:


- O.k, hum... diria que você tem um magnetismo, e... o que eu sinto quando te vejo, é algo ligado a atração, sem querer te ofender.


E lá estava o meu ego, inflando como um balão cujo destino seria alguma galáxia distante, sabe quando você se sente a última bolacha do pacote? Ou então, quando você ganha um prêmio, do tipo mega-sena acumulada, e que é inevitável não sentirem inveja de você, e você se sente tão, mas tão sortudo que seria impossível cortarem o seu barato?
Essa era eu, quando Persy confessou ter uma (own) atração por mim, meu cérebro mandou alertas começando a se corroer de inveja:
 - “Ô mulher de sorte”
 - “É, eu sei!”

 Concordei do alto do pico mais alto do Everest.


- Mas, depois fui te conhecendo, você é tão diferente da sua imagem... você é meiga, engraçada, e tão amável, que... tenho certeza que seremos bons amigos, por muito tempo.


E lá estava o meu ego, murchando como uma margarida velha num jarro com água suja há quase trinta dias, sabe quando vocês se empolgam para comer a última bolacha do pacote, e descobrem que ela está esfarelando de tão velha? Ou quando você pensa que ganhou na mega-sena acumulada, e faz todo um escarcéu diante dos seus amigos que já estavam morrendo de inveja, entretanto quando vai conferir os números, percebe que se enganou? E não foi surpresa alguma quando o meu cérebro entrou na conversa, qual não tinha sido convidado a participar:
 - “Opa, o que ele disse? Bons amigos, é? Por muito tempo? Há-há-há, você não tem chance não, Justine! Pegue seus caquinhos e vamos para casa, estou muito cansado.”


Porém eu estava disposta a desmistificar o engano cometido por Persy, não... bons amigos não! Quem sabe, questionando a sua afirmação, não seria um bom começo:
- Bons amigos?
- Sim, com certeza.
- Hãm... que bom, fico muito feliz – disse eu, sentindo um desconforto imenso no peito, como se Persy tivesse cravado uma espada em mim - posso dizer que sinto o mesmo em relação a você.

 Não era uma mentira, eu tinha sim um sentimento de amizade pelo Persy, mas naquele momento eu queria muito mais que isso.


Foi então que me dei conta de tudo o que estava pensando, e tive certeza de que estava completamente errada, o que ele pensaria de mim, se eu traísse o primo dele com ele? O que eu ganharia com isso? A virtude de Persy, mas... e depois?
 Tinha que encarar o fato, eu namorava com o Rick, mas estava encantada com o Persy, era verdade... qualquer ser mortal se encantaria com ele, era natural... tem gente que atraí ódio, outros atraem inveja, e Persy... tinha aquela atração por ser tão, inocente.
 Mas, e depois quando o Rick voltasse? Eu estava preparada para dar continuidade ao meu relacionamento com ele, e me contentar só em manter o Persy sob os meus olhos, tomando todo o cuidado do mundo para manter as oportunidades (se é que me entendem) longe dele o quanto fosse possível. Mas, novamente... e o Persy? Não acreditei que estava sendo tão egoísta, ao ponto de ter planejado toda a traição sem ao menos me importar com o que aconteceria com ele, como eu sou imunda! Suja e muito, muito egoísta!


- Que bom que se sente assim – disse-me ele, e apesar de eu estar muito concentrada tentado manter a calma, e o clima amigável que o Persy havia decidido manter entre nós, eu pude notar que ele trazia algum tipo de decepção no olhar, ele era transparente demais para conseguir esconder algo, mas estava tão disposto a levar o nosso relacionamento para a amizade que prosseguiu:
- E melhor ainda é saber que correspondemos as expectativas um do outro, isso é muito legal.

 O que dizer depois de tudo isso?
Vocês querem saber se a noite acabou por ai? É claro que acabou!


 Nós voltamos para dentro da casa, e logo o Persy começou a sofrer subitamente do mal do sono anunciando que iria para a cama, acho que ele deu ênfase na palavra sono, e eu entendi que era um fora digno de sua sutileza "made in Hidden Springs", mas não acabou exatamente nessa frase, ele conseguiu manter a calma para fazer-me um convite:
- Por que você não dorme aqui? O Quarto do Rick está vago, eu continuo usando esse quarto ao lado da cozinha, então... poderíamos nos fazer companhia no café da manhã.

 A frase parece bem amigável, não é? Mas vocês precisavam ver o rosto do Persy, parecia que ele tinha recém chegado do funeral de um ente querido.
 - É melhor não, Persy, eu vou pra minha casa, e... nos falamos amanhã.


Ai foi mais ou menos o fim do diálogo, ainda teve todo o processo d'eu chamar o táxi, do Persy ficar sentado olhando para a televisão desligada durante todo o tempo, de eu insistir algumas vezes para que ele fosse se deitar, pois eu poderia fechar a porta, mas ele quis ficar por lá até que o táxi chegasse, me levando de volta para a realidade do meu apartamento.


E então ficamos mudos... ouvindo os grilos, a correnteza do rio, o coaxar dos sapos, o barulho do motor da geladeira e posso até dizer que, a respiração tensa um do outro.
Oras! Quem estávamos tentando enganar? Era nítido que estávamos muito, muito constrangidos com a zona de perigo que enfrentávamos todas as vezes que estávamos juntos, tenho que concordar que não era exatamente a zona de perigo que tinha nos deixado imensamente constrangidos na presença um do outro naquele momento, era a maneira como tínhamos que enfrentar a realidade fora desta zona de perigo, eu era namorada do Ricardo, e essa informação por si só já bastava.


Não que eu quisesse ir embora, não era isso, quero dizer... uma parte era sim, pois não estava suportando a vontade de jogar uma real no Persy, estava louca para dizer:
“Olha, tudo bem... podemos ser amigos, mas será que não existe nem a possibilidade de uns beijos? Sei que namoro o seu primo e que seria muito errado, mas... veja isso! Olha toda essa atração, esse magnetismo, essa magia em nossa volta! Temos que fazer algo, ou vamos explodir!”

 Deus sabe quantas vezes eu tive que morder a minha língua para não jogar tudo pelos ares, e ligar o “foda-se” de uma vez.


Mas então o táxi chegou, e nos contorcemos em nossos lugares, acho que de alívio por tudo estar prestes a acabar, não sei explicar, nos despedimos com um abraço muito estranho e eu parti.




Aviso:
Queridos, pode ser que aconteça vez ou outra das atualizações atrasarem um pouco até o dia 21 de Abril, pois estou em período de provas e entrega de trabalhos.
Beijos
Carol.