Voltamos para à luz da lua, e todo aquele cenário romântico, nos sentamos no sofá de vime que ficava no quintal e conversamos por algum tempo. Persy estava falando à toa, sobre a primeira resposta que teve do seu material, fiquei um pouco apreensiva; pois me vi com um medo absurdo do dia em que ele iria embora chegar, porque naquele momento eu gostaria de ter a sua companhia, nem que fosse para passar todo o tempo só olhando.
Então, praticamente só consegui captar a sua última frase:
- Vai ser bom, pois vou conseguir financiar a minha próxima viagem.
Em seguida, comentei algo aleatório, ignorando todo o conteúdo do monólogo, não dando continuidade ao assunto dele:
- Acho que você é a pessoa mais incrível que já conheci, Persy, não tenho a menor duvida disso.
- Eu? – indagou ele, surpreso - Tem certeza?
- Absoluta.
- Acho que está enganada a meu respeito, Justine.
- Ah, eu não acho não. Você parece tão perfeito, que às vezes, juro... fico buscando algum defeito só para quebrar a sua imagem. – Persy, abriu a boca para protestar, mas eu não permiti – Obviamente, ainda não encontrei nenhum.
Ele ficou em silêncio olhando para o horizonte, e sem me encarar disse:
- Eu tenho tantos defeitos quanto qualquer pessoa, fico lisonjeado que você só consiga enxergar os meus pontos positivos, mas... por outro lado isso me preocupa.
- Por quê? – Quis saber eu, de imediato.
- Porque, bom... porque quando acreditamos muito em uma coisa, e de repente nos decepcionamos, a admiração se quebra e na maioria das vezes é fatal.
- Imagina, que defeito você pode ter? Quero dizer, você é tão, tão... perfeito que é difícil te imaginar fazendo cocô, por exemplo.
Ele quase se mijou de rir, mas não desmentiu.
- Para com isso, Justine!
- É verdade!
- E o que mais você não consegue imaginar a meu respeito?
A risadinha torta novamente, e eu me contorci inteira por conta da corrente elétrica que passou pelas minhas costas, aquilo me deixou eufórica.
- Hum... – Respirei profundamente e soltei sem dó, aliás, usei um pouco de suspense, não por querer fazer suspense, mas dizem que pra bom entendedor, meia palavra basta – não consigo te imaginar, sabe?
- Não, o quê?
- Ah, você sabe! – Fiz um gesto obsceno com as mãos, e ele me olhou confuso.
- Não, não faço a menor idéia do que você está falando.
- Tá, eu até imagino... mas, tudo para num certo ponto.
- Quer falar logo? – Exigiu ele, com um sorriso nervoso.
- Ah, Persy... transando, sabe?
Os olhos dele quase saltaram da órbita e rolaram pelo gramado, mas não consegui frear a explicação - Comendo alguém, molhando o biscoito, dando umazinha, afogando o ganso, trepando!
Do nada, ele ficou pálido demais, talvez fosse o efeito da lua na pele já muito clara, então Persy abaixou os olhos e esboçou um sorrisinho tímido.
Eu tive vontade de mordê-lo
- Ahm, acho que exagerei no palavreado, deveria ter falado... "fazendo amor".
- Não ligo, acho engraçado a maneira como você fala, apesar de serem palavras... fortes, vindas de você elas soam engraçadas.
- Então... – Eu estava realmente disposta a levar o assunto até as últimas consequências, e talvez até arrancar dele, uma ou duas histórias picantes - Não te imagino fazendo essas coisas, deve ser porque te acho muito...
- Inocente. – Ele completou.
- É.
- Hum... - Persy resmungou, e após uma pausa razoavelmente longa, ele deu procedimento ao diálogo, me deixando atônita – Ou deve ser porque está na cara que eu nunca... fiz.
As coisas poderiam ter acontecido de outra forma, Persy estava ali do meu lado, me fazendo ter sensações incríveis apenas com palavras, e é lógico que apesar de eu não conseguir imaginar ele “trabalhando” podia imaginar o quanto ele era bom, se com palavras ele tinha o dom de quase me provocar um orgasmo, ficava muito, muito curiosa para saber o quanto seria divina a experiência de tê-lo em uma cama. Entretanto, me senti totalmente desconcertada, sua resposta foi tão rápida e precisa, que demorou quase uma eternidade para ser absorvida por mim, então o Persy, era...
- Eu sou virgem.
Não, não, deveria ter algum tipo de brincadeira em tudo aquilo, como assim? virgem? Seria de signo? Ou de qualquer outra coisa, mas não podia acreditar que ele realmente fosse, não por ele ser, mas... quando ele disse que era, eu quase chorei, por pura emoção, emoção mesmo, acho até que foi melhor que romance dramático:
- É sério, Persy?
- Hãm... é. – Own, eu quase puxei ele pro meu colo, e cantei uma musiquinha pra ele dormir.
- Isso... isso é fofo! Encaixa completamente tudo o que sinto em relação a você!
- Não, Justine... entenda, eu tenho vinte e cinco anos e... nunca aconteceu, não que eu não tenha tido minhas oportunidades – Será que preciso dizer que eu odiei na velocidade da luz todas as oportunidades que ele teve? Acho que não – Porém, não sei explicar o que acontece comigo.
Tudo, menos ejaculação precoce, falta de ereção, ou falta do dito cujo... qualquer outra coisa daríamos um jeito.
- Você tem problemas... com o seu, sabe? Ele funciona?! Quero dizer, você tem... entende?
- Ereção? – Questionou-me seriamente.
Minha barriga doeu, tive a sensação de ter levado um murro na boca do estômago; de repente, estava muito estranho falar desse tipo de coisas com ele, então, sem conseguir encará-lo, resmunguei de forma afirmativa:
- Ahm... ahããm.
- Não tenho problemas, sou completamente normal... eu tenho...
- Entendi, entendi! – eu o cortei rapidamente.
O assunto estava ficando muito embaraçoso, não que depois eu não tenha me martirizado por tê-lo cortado, afinal ele iria estender o papo sobre a sua ereção talvez por toda a noite, e quem sabe, se eu tivesse muita sorte, ele poderia ter resolvido mostrá-la para mim? Não podemos descartar hipóteses, ainda que remotas.
- Certo. - Ele concordou.
- Então, qual o problema?
- A sensação de que... a hora não chegou ainda, a pessoa certa, um amor de verdade.
- Ah... Persy, que coisa linda de se ouvir. – Eu fui sincera, acreditem.
- Ah, qual é, Justine?! Se você soubesse o quanto é frustrante ter um relacionamento, e não conseguir se entregar de fato. Veja, tive três namoradas... mas, foi tudo tão rápido... e também, a vida que eu escolhi não ajuda muito, não tenho muito tempo, acho que... desde que optei por estar envolvido em milhões de projetos, esse tempo que estou passando em Bridgeport, é o meu recorde parado em um único lugar. - Ele fez uma pausa para respirar - Já estou quase conformado, que... nunca vai acontecer.
Imagina! Poderia colocá-lo dentro de um bacanal, e seus problemas seriam resolvidos rapidamente, ou eu mesma poderia facilmente resolvê-los, se o problema mesmo não tivesse chegado junto com a novidade.
Senti um nojo imenso de mim por querer perverter o Persy, quase corri para lavar a boca com sabão, e fazer gargarejo com o alvejante, depois de ter falado palavras como: “trepar”, “umazinha” , “tesão” e tantas outras ao lado dele.
O que poderia eu falar então em um momento como este? Um conselho que minha mãe daria, talvez fosse a melhor opção, pelo menos até eu me acostumar com a virtude dele:
- Vai acontecer... e tenho certeza, vai ser lindo.
Ele me fitou por um longo período, e depois mudou de assunto:
- Posso te confessar uma coisa?
- Claro que sim!
- Gosto tanto quando você me chama de Persy.
- É mesmo?
- Sim, geralmente quando usam o meu primeiro nome, eu não me sinto muito bem, parece que sou um estranho, entende?
- Eu gosto mais de Persy... acho seu nome uma graça, tem algum significado?
- Minha mãe, ela resolveu fazer uma homenagem ao Deus dos mares Poseidon, ao semideus Perseus, e aos titãs: Perses, filho de Crio e Euríbia, e Prometeu, filho de Urano e Gaia... – Eu estava olhando para ele de forma abobalhada, por sorte, já tinha ouvido Persy e Rick comentar sobre Deuses em outra ocasião, e tinha dado uma olhada no tal livro de ouro da mitologia - e o que esses caras tem a ver comigo, né? – Ele riu sem graça da própria piada.
É, talvez ele fosse frágil demais para ter um nome homenageando Deuses, Semideuses e tudo mais, que pelo meu conhecimento, eram absurdamente fortes e enfrentavam monstros terríveis como: Krakens, Erínias, Hecatônquiros, Ciclópes entre tantos outros; por outro lado fazia jus a homenagem, pois era lindo com um.