quarta-feira, 29 de agosto de 2012

XXXIV - Papo reto


Passado o tempo de tentar dar um up, e o tempo de completa nostalgia, eu me entreguei aos dias de sofá e depressão, e foi em um desses dias de sofá e de muita reflexão que eu me dei conta de como tudo estava estranho em minha volta, sabem?
Pensei em mim e no Ricardo, não fazia muita idéia de quanto tempo ele havia voltado da China, eu ainda me encontrava perdida em datas, e tentei me lembrar em que momento após a sua volta tínhamos ido para a cama. Nós dormimos juntos muitas noites, mas não transamos, então fazia cerca de um mês e meio que estávamos sem sexo, quero dizer... será que ele estava correndo sérios riscos de ter um tumor no saco, ou ele estava se aliviando por ai? Enquanto eu me encontrava ocupada demais tomando conta da vida do Persy e da Lola?
Eu o esperei pacientemente, e se tivesse um rolo de macarrão em casa, podem apostar que estaria em punho, infelizmente não tinha, então estava de mãos limpas.
Quando ele chegou, trajava além de sua roupa social de trabalho, um rosto parcialmente preocupado; E assim que ele se aproximou me questionou:
- O que foi, Jussy?
 Eu poderia enrolá-lo por horas, a fim de fazê-lo se entregar e tropeçar nas próprias mentiras, mas decidi que iria usar a filosofia do Persy, sinceridade doa a quem doer:
- Rick, me fale... você já está com um tumor no testículo, ou anda se aliviando por ai? - Eu o peguei completamente desprevenido, e vocês precisavam ver a cara dele, foi de matar.
- Oh, Jussy... não estou me aliviando por ai.
- Então, está com um tumor?
- Também não... – Ele respondeu rapidamente.
- Então o que está acontecendo?
Ele suspirou e abaixou a cabeça, mantendo os olhos em direção as mãos, e então começou a falar:
- Jussy, eu... eu gosto demais de você, de verdade... mas, já tem um tempo que, eu venho pensando....
 Ele fez uma pausa, não sei se para ganhar tempo, ou para respirar, só que eu não estava no meu dia de paciência, então exigi:
- Desenvolve, Rick.
- Nos damos muito bem, e tudo, mas, acho que não nos amamos, não da forma como deveríamos nos amar.
- Como assim?
- Veja, estamos sempre juntos, e somos cúmplices em muitas coisas, mas... falta alguma coisa entre nós. Acho que somos amigos, Justine... acho que no fundo nós dois sabemos disso, só que estamos juntos há tanto tempo... que nos esquecemos.
 - Você não, não me deseja mais? – Disse eu, chorosa.
- Ah, Jussy, como não desejar você? Você é tão bonita... mas, nos saciamos das nossas conversas, você pode notar? Quero dizer, muitas vezes vamos para a cama com a real intenção de transar, só que quando chegamos na cama, nos perdemos em assuntos e acabamos a noite conversando.
 É, ele tinha razão, e fazendo uma pequena reprise isso se tornou muito evidente.
 - E por que você não me falou isso antes, Rick?
- Não queria te magoar, você parecia tão frágil, e dependia de mim para muitas coisas, tinha medo de você nunca conseguir enxergar que sua profissão não fosse te dar uma instabilidade financeira futura... e não poderia te deixar assim, sem uma perspectiva de vida.
- Mas, então... então faz muito tempo que você se sente assim em relação a mim?
- Não faz muito tempo... foi um pouco depois de falarmos em nos casar, lembra?
- Lembro, comentamos algo, mas depois você ficou meio com o pé atrás, dizendo que gostaria de trabalhar mais dois anos, e tudo.
- É, exatamente... naquele dia eu percebi, que não éramos mais um casal de namorados que estavam ansiosos pelo futuro, ali eu percebi que éramos amigos, mas também soube que levaria algum tempo para você se dar conta... pois você tem um costume de traçar metas esquisitas, e ainda que não esteja completamente feliz, não consegue admitir que esteja infeliz, e muito menos voltar atrás.
 - Sou realmente assim, não é?
- Ahãm...
- E eu te anulei em algum momento, Rick?
- Não, você não me anulou em momento algum.
- Então, por que você decidiu se abrir comigo hoje? Quero dizer... eu passaria a minha vida inteira sem notar que você não me ama mais, e iria esperar até o final que você me pedisse em casamento.
 - Corrigindo, Jussy, sem notar que não nos amamos mais.
- Que seja, Rick... eu passaria a vida toda assim, então se você temia antes que eu não pudesse me virar sozinha, hoje... eu posso muito menos, estou arrasada por descobrir que meu emprego, aquele que eu idolatrei por tanto tempo é na verdade uma merda, então se antes você não podia me deixar por temer o que aconteceria comigo, ainda que eu estivesse feliz e satisfeita, porque você decidiu fazer isso hoje que estou tão triste, e preciso muito mais de você?

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

XXXIII - Vazio


Fazia cerca de uns dez ou quinze dias que havia sido proporcionado o jantar que desgraçou a minha vida completamente, mas parecia que fazia uma eternidade.
 Apesar de ainda ter o Rick, eu não sei... não era mais a mesma coisa, eu me sentia completamente sozinha ainda que ele estivesse ao meu lado, e pra falar a verdade, eu me sentia assim ainda que eu estivesse numa passeata contra o uso de peles de animais para fazer casacos, e eu me sentiria da mesma forma em qualquer lugar que fosse, e para mim não existia realmente diferença se estava num espaço aberto sozinha, ou se ao meu lado estivessem um milhão de pessoas, a sensação de estar só era a mesma em qualquer ocasião.
 A verdade era que eu estava sentindo a falta do Persy, e agora era pra valer, estava sentindo muita mesmo, não só de olhar para ele, entendem? Sentia falta das nossas conversas, das tardes caminhando enquanto ele recolhia material para a sua coleção, falta de me sentir especial para alguém, como me sentia para ele, e sentia tanto que entrei numas de visitar os locais onde tinha estado com ele, como a esplanada das borboletas, por exemplo. Quando me sentei no mesmo banco que tinha me sentado naquele dia enquanto o esperava, fiquei sorrindo enquanto me lembrava do quanto eu tinha agido como uma idiota em relação a ele naquele dia em questão, o tratando como um menininho de cinco anos, e lembrei de sua risada graciosa ecoando por entre as árvores.
 Estive na praça, no mirante e também na prainha deserta que dava visão para toda a baia de Bridge, e fiquei por lá, assistindo ao pôr do sol que em outrora tinha sido tão excitante com o Persy ao meu lado, e que agora estava dotado de saudades e de um completo vazio por sua ausência em minha vida.

domingo, 19 de agosto de 2012

XXXII - A tendência é piorar


Sabem quando as pessoas te dizem:
“Tá mal? Relaxa, a tendência é só piorar!”
  Bom, eu comprovei que essa a frase é verídica em uma noite que eu preferiria ter perdido uma perna e ficado em casa em repouso, a ter ido trabalhar.
 Lá estava eu, no meu modelito de mixóloga, entediada com as conversas do balcão, imaginando se algum currículo meu teria sido respondido para que eu pudesse enfim começar a traçar novos rumos; Quando sem muita vontade escorreguei meus olhos para a pista em minha frente.
 Desejei que ácido puro tivesse caído de algum lugar, e feito com que eu ficasse cega ao ver o Persy, ali, na minha frente.
 Ele estava maravilhoso, e minha primeira reação foi sorrir para ele, até que demorou um pouco para ele me notar, mas quando aconteceu ele abriu aquele sorriso lindo, apesar da luz estar fraca, vi claramente seus lábios pronunciarem o meu nome, mas não consegui ouvi-lo por conta da música muito alta. E é claro que eu não teria desejado ser cega se eu estivesse apenas vendo o Persy, só que ao seu lado, de repente, surgiu Lola... ela me encarou por alguns míseros segundos, e em seguida puxou o Persy com um de seus tentáculos, com uma fúria tão grande que eu esperei de verdade que o braço dele se descolasse do corpo, como em câmera lenta eu vi todo o seu corpo reagir ao puxão, e seus olhos desviarem dos meus buscando em sua volta de onde surgira o golpe violento, ele ainda voltou a olhar para mim, entretanto, acabou seguindo por fim junto com a: Traidora, lambisgóia, desgraçada, vaca mãe de todas as vacas másteres, e fêmea mor de todas as fêmeas de Krakens devoradoras de homens inocentes, Lola.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

XXXI - Enfrentando a realidade




Nos dias que se seguiram, Ricardo me ligava sempre para fazermos algum programinha, ou para que eu passasse na casa dele, a fim de repetir a dose do jantar.
Evidentemente eu comecei a dar desculpas, ou então desconversar complemente, até que o Rick perdesse o foco do assunto, claro que não demorou muito para que ele percebesse que eu estava virando mestre em desculpas, então ele parou de insistir, e ao invés de eu ir até a casa dele, ele vinha até o meu apartamento.
Tive a prova definitiva de que Lola e Persy realmente transaram naquela noite, pois a Lola nunca mais me procurou, e Rick sempre me dizia que Lola e Persy viviam saindo juntos desde então, e assim como eu tinha deduzido, Rick estava se achando o máximo por ter promovido o encontro que fez com que os dois se acertassem, e ele dizia quase sempre:
- Bom, agora posso dormir tranquilo, sabendo que o moleque não vai ter um tumor no saco, mas por outro lado, estou temendo que ele perca o brinquedo, sabe como é? Se você visse a forma como Lola olha pra ele, Jussy, tá na cara que eles passam a madrugada toda no pega pra capar, e sinceramente eu não sei como o Lars ainda não pediu arrego.

"Obrigada, Rick... mas acho que eu poderia dormir muito melhor sem essa informação."

Eu estava usando as minhas tardes vazias e informes tal qual o deserto do... hãm Al Simhara, para mudar o rumo da minha vida, procurando um emprego que não fosse um hobby, entendem?
O Rick, apesar de ter ficado chocado com a possibilidade de ser uma marionete nas mãos dos grandões, naquele fatídico e infeliz dia, não se preocupou em querer mudar de vida, e no fim se explicou:
- Ah, quer saber?! Eles me pagam bem, que se dane!
Tudo bem Rick, sua marionete feliz.
Já eu não tinha essa desculpa para dar, então tinha que enfrentar além das apunhaladas que recebi do trio mitológico o meu total fracasso profissional do alto dos meus vinte e nove anos de idade, aquilo tudo estava sendo uma tortura.

domingo, 5 de agosto de 2012

XXX - Jogadas profissionais



Claro que o Rick estava eufórico com o evento, e assim que nos deitamos ele ficou tentando imaginar todo o roteiro da noite de Persy e Lola com um teor erótico de dar inveja ao Butmann; Felizmente Rick dormiu antes do Persy gozar no seu conto, a Lola já tinha tido orgasmos múltiplos umas cinco vezes.
   Estava odiando Lola infinitamente, e estava fazendo as contas de quantos anos eu deveria me manter afastada dela para não matá-la, traidora... safada!
   Eu ainda estava acordada quando ouvi muitas horas depois o carro estacionar, ouvi claramente os passos do Persy caminhando pela calçada, e então ouvi a porta ser destrancada e trancada novamente, ouvi o seu suspirar, parecia satisfeito... e isso acabou comigo, então ouvi uma música baixinha surgir, era música clássica ou algo do gênero, e então o ouvi falar no final:

“Vamos lá, Lars Persy, um passo de cada vez”.

  Dizer que as coisas estavam em perfeita ordem no outro dia, seria uma piada.
Por sorte, quando acordei Rick não estava do meu lado, e quando me levantei notei que Persy também não estava, então me vesti e sem nem ao menos passar pelo banheiro deixei a casa.
   De repente, eu não queria ver o Persy, não depois dele ter ido para a cama com Lola. Por mais que ele tenha dito para eu confiar nele, vamos combinar, ele ficou quase a madrugada toda fora, e fazendo o quê? Jogando fliperama? Por mais que eu quisesse acreditar que sim, bom, eu conhecia Lola o suficiente para saber que ela não toparia nenhum programa desse tipo, então eles não poderiam de forma alguma ter passado a madrugada jogando, a não ser que fossem jogos eróticos.
   E vamos combinar mais uma vez, Lola, a Kraken traidora jogou com tanta maestria com o Persy, que eu fiquei muitas vezes chocada com as suas jogadas; Sabia que ela estava mentindo, é claro que sim, conheço Lola há uns nove anos, mas, fico me perguntando... como ela sabia tanto a respeito do Persy? Era acerto atrás de acerto, ponto atrás de ponto, e vamos dizer que, ela citar o deserto de Al Simhara foi uma daquelas cestas de três pontos feitas do outro lado da quadra e com o jogador de costas, né? Quanta cagada!
   Depois daquele dia, decidi que eu não iria mais olhar na cara do Persy; Não, eu não estava sentindo raiva dele, por ter me dito que eu não tinha nada a temer porque ele era fiel aos seus princípios, só não queria vê-lo com a sua nova pele, despido de sua virtude, aquilo iria me arrasar profundamente. Agora a Lola eu não queria ver porque estava louca de ódio dela, e o Rick, bom, o Rick eu iria ter que conviver.